Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

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segunda-feira, 18 de julho de 2016

A DISTOPIA NOSSA DE CADA DIA



Um tipo de narrativa que passei a gostar nos últimos anos foram as distopias. E o que me faz buscá-los é o seu assustador retrato da realidade servindo de alerta (muitas vezes ignorado) sobre os perigos que nos cercam em sociedade. Mas o que são distopias?

Diferentes do mundo perfeito e idílico apresentado na obra A Utopia (Thomas Moore) e referência a algo ideal, as distopias nos apresentam um mundo cruel, totalitário, onde o homem perde sua individualidade e liberdade. Muitas obras, durante o século XX, tornaram-se referenciais nessa seara e quando olho para o que acontece no país – e no mundo em muitos momentos – não consigo deixar de pensar que vivemos aqui no Brasil numa assustadora distopia que abarca o enredo das principais obras do gênero, como se essas fossem não um aviso e sim um manual.

Um primeiro exemplo é o livro 1984, de George Orwell. Ambientado numa Londres no ano de 1984 cujo governo está nas mãos do Grande Irmão, a população vive sob eterna vigilância, num ambiente de total falta de privacidade e liberdade. Toda e qualquer informação é controlada e a verdade é subjetiva, é usada ou criada por interesse dos que detêm o poder. Nesse ambiente, até mesmo as palavras têm seu sentido modificado através da Novilíngua, idioma criado a partir de contradições e supressões de sentidos e expressões para que as pessoas pensem de maneira confusa. Tudo é controlado por essa entidade, O Grande Irmão, e ninguém se dá conta de que é controlado.

Aí, meu provável leitor vai pensar: “qual a relação desse livro com o Brasil? ”. Explico. Ao pensarmos em leis como o Marco Civil da Internet, pensar em como a informação e o sentido das palavras e ideias são deturpados para defender uma ideologia, quando percebemos que estamos nas mãos de uma entidade que deveria nos proteger e legisla contra a população (STF) nos mantendo sob eterno medo e incompreensão, fica claro como vivemos num mundo como 1984. Quando mentiras viram verdades e pessoas subjugadas defendem com afinco os responsáveis por sua miséria – como o pai preso denunciado pelos filhos e mesmo após ser agredido pelos representantes do Estado ainda defende o Grande Irmão – e quando aqueles que tentam mudar esse quadro sombrio são perseguidos, calados e até mortos, fica claro a realidade distópica em que vivemos.

E quanto ao esvaziamento cultural? Pensem na peça dos macaquinhos (aquela em que atores exploram os orifícios alheios em cena), nas músicas cada vez mais pobres, nos programas cada vez mais imbecilizados e afinados com uma agenda política disposta a idiotizar a população no intuito de manter e aprofundar a realidade acima? A cada dia, os que pensam por conta própria, os que buscam conhecimento, são cada vez mais hostilizados, perseguidos. Essa ignorância coletiva planejada, esse entusiasmo em vender livros para colorir, infantilizando adultos, essa produção intelectual que trata adultos como crianças de 12 anos e que faz com que qualquer pensador sério seja um proscrito nos centros acadêmicos está diretamente ligada a outra obra distópica onde o conhecimento é proibido e a ignorância é vista como a verdade maior: Fahrenheit 451.

Na obra de Ray Bradbury, o conhecimento é perseguido. O papel dos bombeiros nessa sociedade é queimar livros. As pessoas vivem em suas casas com telas que levam entretenimento vazio para as pessoas enquanto aqueles que não se conformam com essa realidade, que escondem livros em suas casas, são perseguidos por um Estado totalitário que preza a ignorância do seu povo. Nesse caso, a escravidão do povo – diferente de 1984 – é pelo saber, ou ausência dele. Por desconhecer, o povo é dominado e a máquina estatal usa sua infraestrutura para que continue assim. E essa ignorância, esse entretenimento vazio e deturpação do sentido das coisas, essa distorção de valores morais, leva-nos a outro traço em nossa sociedade que me faz crer que vivemos numa distopia.

Muito foi falado das ocupações escolares em algumas cidades brasileiras. Da mesma forma, fala-se muito de como os mais jovens se tornaram cada vez mais desinteressados e irresponsáveis. Como professor, sou um ferrenho crítico do ECA e de outras leis que protegem jovens indisciplinados ou criminosos. Essas leis criaram uma geração que não respeita a autoridade, não valoriza preceitos morais, ignoram a importância de se adquirir conhecimento. São crianças mimadas criadas por adultos incapazes de puni-los por força de lei.

Essa geração totalmente violenta e desrespeitosa não diferente em nada dos protagonistas de Laranja Mecânica, outra distopia que serve de parâmetro para olharmos o Brasil. No livro, adolescentes enveredam pela delinquência, pais são incapazes de conter seus filhos e as ruas passam a ser dominadas por hordas de garotos arruaceiros que não respeitam nada nem ninguém. Num mundo onde o Estado cria leis que inibem a autonomia dos pais, o protagonista Alex torna-se um marginal violento sendo preso e torturado diante da impotência de seus pais de o educarem. A cada turba de crianças que invadem os ônibus na saída das escolas pichando, gritando, atrapalhando a ordem e depredando patrimônio alheio por puro prazer, fica difícil não lembrar de Alex.

Ainda é possível pensar em mais uma obra ou duas obras. O hedonismo desmedido, por exemplo, a banalização do sexo através de músicas e programas de TV, a busca pelo eterno prazer que leva a uma ditadura da felicidade onde todos devem ser felizes a qualquer preço está no mesmo grau de prisão prazerosa descrita em admirável Mundo Novo. Enquanto nas obras acima mostrarem um mundo opressor, privando o homem de sua liberdade pela opressão estatal ou ignorância mantida pelos que estão no poder, no livro de Huxley, a privação da liberdade é mais perigosa por se travestir de liberdade. Esse mundo libidinoso de eterno prazer embota os sentidos fazendo com que todos pensem que são livres, mas se tornando escravo de seus prazeres e esse estado de coisas mantido de forma deliberada pelo governo.


Até mesmo as obras de ayn Rand (sobre as obras leia nos links: http://meindicaumlivro.blogspot.com.br/2016/07/quem-vai-parar-o-motor-do-mundo-quem-e.html e http://meindicaumlivro.blogspot.com.br/2016/07/a-nascente-e-o-legado-do-homem-ideal.html) possuem um ar de profecia ao olharmos as decisões tomadas pelos 13 anos de governo petista levando a nossa economia ao colapso que nos encontramos hoje. Tanto uma obra quanto a outra mostram como um grupo de formadores de opinião pode ser manipulado para defender uma ideia destrutiva sem que tenha a noção de que estão sendo manipulados (A Nascente) ou como decisões desastrosas podem levar a uma queda profunda de produtividade e dilapidação da riqueza, um estrangulamento daqueles que empreendem levando o país a uma quebradeira generalizada.



Muitos são os exemplos de obras que podem nos fazer entender o nosso mundo, mas as distopias de forma geral servem para abrirmos os olhos para os perigos de certas posturas daqueles que governam e devem ser sempre leituras obrigatórias para aqueles que lutam pelas suas liberdades e por um mundo onde esse tipo de narrativa seja apenas isso: uma narrativa. Até a próxima.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

A Esquerda Vive de Narrativas: Parte 2

Por: Rafael Andreazza

Esses dias um conhecido meu, claramente esquerdista, compartilhou este link, entrevistando um sociólogo preocupado com o clima de caça às bruxas contra ideias de esquerda, dando destaque a um argumento estapafúrdio do sociólogo em questão:

A realidade da universidade no Brasil, hoje, não tem nada a ver com isso (Doutrinação marxista). Na verdade, o que eles chamam de marxismo é qualquer coisa que envolva a defesa de direitos humanos, direitos sociais, de “minorias”, e de tudo o que, nestes últimos doze anos, possa ter significado um avanço social. Com todas as críticas que se possa ter, os governos do PT avançaram muito deste ponto de vista. Lula promoveu no Brasil uma espécie de pacto social, trazendo para o governo outros partidos e outros setores, incluindo o empresariado. Em troca disso, conseguiu inserir na agenda do País o combate à miséria, ações afirmativas, políticas de enfrentamento da violência contra a mulher e uma série de outras coisas que não estavam na pauta política nacional. Isso tem alguma coisa a ver com marxismo? Não tem nada a ver. Está mais para uma agenda social-democrata, de ampliação do Estado democrático de direito para setores que, historicamente, ficaram de fora. Foi isso o que aconteceu no Brasil.
 Chega até a ser engraçado afirmar que existe uma perseguição ideológica contra as ideias de esquerda na universidade. Tanto que a USP chegou recentemente a criar um coletivo da "juventude anticapitalista e revolucionária" e a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) chega até ter um "centro de difusão do comunismo". Veja bem: não é nem de ESTUDOS sobre o comunismo, mas de DIFUSÃO.

De resto, a fala em questão chega a ser patética. Se o Brasil avançou nesses 12 anos, foi apesar do PT, e não por causa dele. É muito fácil, por exemplo, aprovar uma lei Maria da Penha e dize que está "valorizando a mulher", mas onde estão os dados estatísticos comprovando que a violência contra a mulher realmente diminuiu? Vale lembrar que a violência e a criminalidade nesses anos só aumentou. Que espécie de avanço nas "políticas de enfrentamento da violência" é esse que segue lado a lado com um aumento da criminalidade?

Outra afirmação ridícula foi de que o PT ampliou o "estado democrático de direito para setores que, historicamente, ficaram de fora". Quer dizer então que se não há uma lei específica para cada grupo específico isso quer dizer que eles não são contemplados pela lei? Isso sem falar em tudo que o PT fez esses anos para DESTRUIR o Estado Democrático de direito, como o controle de mídia (rejeitado pela câmara, felizmente) e o Decreto Bolivariano que daria mais poder à "sociedade civil", sendo que o que eles chamam de "sociedade civil" nada mais são do que coletivos ideologicamente alinhados com o governo, como o MST. Chega a ser patético dizer que houve uma ampliação do Estado Democrático de Direito quando o PT também nada fez contra a plutocracia nefasta que assola o país, colocando políticos (em especial do partido) acima da lei enquanto cria um verdadeiro culto de personalidade à figura do ex-presidente, tratando-o como uma espécie de semi-deus (parece que ele não entendeu a parte da igualdade perante a lei exigida por um verdadeiro Estado Democrático de Direito).

A parte da vanglorização das leis afirmativas é outra balela que, além da falta de evidências de sua eficácia, só servem para polarizar a sociedade, acusando os opositores de serem "elitistas" que não querem que os pobres melhorem de vida. Ignoram que foi justamente um liberal - Milton Friedman - que defendeu a política de vouchers, que consiste no governo pagar bolsas para que os pobres possam estudar em boas escolas particulares ao invés de ter escolas administradas pelo governo. Chega a ser digno de nota que a esquerda que rejeita e ignora os vouchers é a mesma que defende políticas de cotas sob o argumento estapafúrdio de que os pobres estão em desvantagem no processo de seleção universitário por não terem acesso a escolas particulares de melhor qualidade. Pior: implicitamente neste argumento, estão dizendo que a escola pública não presta, mas a solução sugerida por muitos na esquerda não é mandar os pobres para escolas privadas, e sim tornar todo o ensino básico público porque as escolas privadas "não se importam com a qualidade do atendimento" porque "visam o lucro e não o atendimento das necessidades da sociedade". A mesma esquerda que fala em aumentar o acesso à educação e em melhorar a vida dos pobres também nada faz ou diz contra a burocracia asfixiante que impede outra rota de saída da pobreza: o empreendedorismo. Em todos esses anos de PT, a liberdade econômica do Brasil só despencou. Isso sem contar as tentativas de aumentar impostos e recriar a infame CPMF.

Por último, a piada do dia mesmo foi o enfrentamento da miséria. Por mais que programas como o Bolsa Família possam ter até tirado várias pessoas da miséria, o que mais que o PT entregou esses anos todos às classes baixas? Inflação galopante, fuga de investimentos e a pior crise das últimas décadas. Tudo isso ao mesmo tempo que enche o bolso de empresários como o Eike Batista, e emprestam bilhões para ditaduras.

A mesma esquerda que diz se preocupar com os pobres é aquela que afunda as pessoas na pobreza. A mesma esquerda que vai às ruas protestar por passe livre não dá um pio sobre os repasses bilionários a ditaduras ou ao corte de 6 bilhões na educação. A esquerda é puro cinismo e hipocrisia.

Intelectuais como Thomas Sowell já falavam sobre esse tipo de artimanha. Intelectuais (juntamente com seus admiradores e defensores) que querem apenas pensar bem de si mesmos, mas estão pouco se lixando para as consequências do que pregam.

A esquerda vive de narrativas e propaganda. Na impossibilidade de entregar resultados concretos, é tudo o que lhe resta.


Mais: A esquerda vive de narrativas, não de fatos ou verdades
http://shogunidades.blogspot.com.br/2016/04/a-esquerda-vive-de-narrativas-nao-de.html

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A esquerda vive de narrativas, não de fatos ou verdades


Por: MV. Mesquita (Editor do Blog)




A esquerda, desde os tempos dos Jacobinos jamais lidou com fatos ou com a verdade. A esquerda lida com narrativas.

Por ser ex membro do partido comunista Orwell entendeu isso muito bem a ponto de criar o conceito de novilíngua e do "duplipensar" implantados pelo fictício partido INGSOC (Sigla para Socialismo Inglês) do livro 1984 cujo o lema dizia: “Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força”.

Exatamente após entender que a esquerda vive de narrativas que distorcem os fatos e a verdade é que você assistirá a mais uma manifestação - do partido responsável pelo desvio de bilhões para auto-financiamento de campanhas e compra de votos parlamentares; autor intencional de uma das maiores crises econômicas do pais no últimos 60 anos; que conta com a aprovação de 7% da população; e que foi eleito com 38% dos votos válidos - batizada de "manifesto em favor da democracia contra o golpe".

Derrubar um governo que comete todas essas atrocidades é golpe.

Narrativa é tudo.

(Continua).


"Se a prudência da reserva e decoro indica o silenciar em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de uma ordem maior pode justificar a atitude de dizer o que pensamos." - (Edmund Burke)