Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

sábado, 16 de julho de 2016

A Turquia moderna que conhecemos na TV e em panfletos de viagem irá acabar



Vou me antecipar aos fatos na Turquia e vocês podem vir me cobrar depois. Mas antes vamos explicar melhor como funciona a politica turca contando...

O que nenhum analista politico da Globo News irá te contar

O exercito Turco não segue as ordens do presidente do pais. Ele segue a visão do fundador doa Turquia: Mustafa Kemal Atatürk.

 Kernal era um militar entusiasta do iluminismo e defensor de um estado democrático Secular (com separação do estado da igreja, ou melhor Mesquita). Depois de lutar pela independência da Turquia e reerguer o pais dos escombros do império otomano derrotado na primeira guerra. (Sim o Império Otomano era parte da tríplice Aliança junto a Alemanha e o império Austro-Húngaro) Kernal estabeleceu o seu "Kernalismo".

A ideologia 'kemalista', que encontrou nas Reformas de Kernal Atatürk, procurava criar um Estado-nação moderno, democrático e secular, guiado pelos progressos educacional e científico, fundamentados sobre os princípios do positivismo, racionalismo e do Iluminismo.

O exercito turco tem a função de defender a soberania do pais SEGUNDO A VISÃO DE KERNAL, não sendo subserviente e nenhum outro governante. Por isso é muito comum que de tempos em tempos ocorram intervenções militares no pais sempre que um governante saia da visão pretendida pelo grande patriarca turco se aproximando da religião ou pretendendo reviver a glória Otomana (e esse movimento nunca morreu no pais, além de um crescente extremismo islâmico na maior parte da Turquia, abafando inclusive o cristianismo ortodoxo que sempre foi forte por lá).

É importante ressaltar que a tentativa militar de depor o presidente Recep Tayyip Erdoğan NÃO CONTOU COM A PARTICIPAÇÃO DE NENHUM MILITAR DE PRIMEIRO ESCALÃO. Procurem na história mundial de todos os golpes militares aplicados contra governantes e vejam quantas vezes isso aconteceu sem a participação direta de algum General ou qualquer outro militar de patente superior.

Agora vamos ao outro lado da história.

Recep Erdogan está no poder há 10 anos. Primeiro como primeiro-ministro e depois como presidente já há dois mandatos seguidos. Erdogan reúne todos os atributos que podem compara-lo a líderes populistas como Hugo Chaves. Com medidas populistas, partidarismo, Otomanismo, censura a internet e controle de mídia. A principal fonte de informação do pais é um canal estatal.

A tradição política turca determina que o Presidente da República tenha cerca neutralidade e independência dos partidos políticos, sendo este um dos juramentos no ato de posse presidencial. Quebrar um dos termos de um posse é uma violação da Constituição da Turquia. Contudo, pouco tempo depois de assumir a presidência do país, Erdoğan foi acusado pela oposição de quebrar seus termos de posse ao apoiar abertamente o partidarismo através de seu partido, AKP.

De origem islâmica, Erdogan frequentemente mistura sua visão religiosa a questões politicas, como por exemplo na declaração onde refuta o genocídio armênio ao dizer: "não é possível a um islâmico cometer genocídio". Erdogan causou um aumento na relação já tensa com os armênios ao em 2011, no pico da crise entre os dois países, Erdoğan determinou o desmantelamento da "Estátua da Humanidade", um monumento dedicado às relações de amizade conquistadas após décadas de disputa política pelos eventos de 1915. O premier justificou afirmando que "o monumento situava-se ofensivamente próximo a uma tumba islâmica e que prejudicava sua visão". Até hoje as fronteiras com a Armênia estão fechadas e ninguem entra ou sai da Turquia pela Armênia.

Se a turquia até hoje não conseguiu ingressar na UE, deve-se a atuação de Erdogan numa atuação desleixada de defesa dos direitos humanos e de frouxidão com o terrorismo.Não são poucas as acusações a Erdogan de fazer jogo duplo com o ISIS permitindo passagem de comboios transportando petróleo que abastece as forças do Estado Islâmico.

A realidade da Turquia difere e muito das imagens comuns de modernidade que temos do pais onde mulheres possuem relativa liberdade em comparação a outros países islâmicos. Isso só ocorre nas regiões mais ricas do pais ainda dominadas politicamente por militares. No restante da Turquia a realidade é outra.

Isto posto, afirmo que caso Recep Erdogan consiga rechaçar a revolução armada que ocorre no pais (onde no momento a maioria dos mortos no confronto são militares) a tendência é de um aumento de poder inédito do presidente ao tirar do jogo o único dispositivo real que o pais tem para evitar tiranias: As forças militares.

A radicalização religiosa deverá aumentar mais e ponto do estado se misturar coma religião mais e mais e a turquia que conhecemos de panfletos da CVC e de novelas da Globo não passará de mera lembrança.

Erdogan tem grandes aspirações em ser como Vladmir Putin que parece próximo do eurasianismo, embora não passe de um Hugo Chaves sem apoio militar, e poderemos assistir na Turquia ao ressurgimento do Império Otomano sob as vistas grossas de uma Europa pálida com seus próprios problemas com o terror e a questão dos imigrantes (muitos deles com a entrada no continente europeu facilitada pela Turquia), e uma America frouxa dependente de seu acordo de cooperação com os turcos, que recebem a frota marinha americana. A Turquia tem posição estratégica e essencial no conflito com o Estado Islâmico ligando a Europa ao Oriente Médio e Erdogan sabe disso.

Acompanhar os rumos da Turquia é uma obrigação de quem tem interesse pela história pois é lá que todo o jogo pode mudar.

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