Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Manifesto contra o Funk: Segunda Parte

Continuo aqui divulgando diversos posts com artigos e textos de vários blogueiros respeitados contra o Funk Carioca. A eficiente e já não tão nova arma de controle e manipulação de massas.

O texto que irei postar, dividido em partes é do blogueiro Alexandre Figueiredo retirado de seu blog: Ensaios Patrimoniais

"FUNK CARIOCA": O CONTRASTE ENTRE O DISCURSO E A REALIDADE

Nos últimos anos, o "funk carioca" se destacou como um fenômeno peculiar, muito menos pela sua suposta qualidade artística do que pelo discurso altamente engenhoso que o ritmo recebe pelos seus defensores.

O sistema retórico é de certa forma tão habilidoso que esse discurso, em si, está garantindo não somente a sobrevida do "funk" como um modismo dançante como está permitindo que ele penetre em espaços e redutos antes inimagináveis, recebendo o apoio nunca cogitável de intelectuais, professores, jornalistas, artistas e até mesmo políticos de esquerda.

O que levou o "funk" a tomar um rumo fenomenológico que o faz próximo de se tornar, ainda que pela via política, um "patrimônio cultural", ou pelo menos um "movimento cultural de caráter popular", é algo inédito no Brasil e revela o quanto a intelectualidade brasileira não está preparada ainda para as sutilezas do discurso.

O Brasil, cuja tradição positivista e pragmática inspirou até a inscrição "Ordem e Progesso" de nossa bandeira, também carece de uma intelectualidade crítica, uma vez que a burocracia academicista barra o acesso, logo nas primeiras inscrições para o Mestrado, de possíveis futuros intelectuais brasileiros, pois suas teses críticas, independente de qualquer padrão considerado "científico", comprometeriam tanto o sistema de bolsas de pesquisa quanto a vaidade de intelectuais prestigiados, num contexto como o brasileiro, onde os interesses de poder político e o poder econômico mancham até mesmo as bancas universitárias.

Por isso mesmo, a inexistência de uma contestação sistemática do "funk carioca" mal consegue ser compensada por um discurso que contestasse o ritmo, que apresentasse cientificamente suas contradições. A rejeição pública ao ritmo é grande e expressiva, mas ela é enfraquecida por se limitar apenas ao discurso raivoso de fãs de rock, de saudosistas da MPB dos anos 60 e de alguns blogueiros, escritores e críticos musicais que tentam questionar o fenômeno.

Mas o que levou o "funk" a investir num discurso tão engenhoso, persuasivo e até contraditório? Como se deu esse discurso? Como já escrevemos neste site, o "funk" vive hoje sua terceira temporada como modismo nacional, e parece não querer desaparecer do 'establishment' midiático tão cedo. Seu primeiro modismo foi entre 1990 e 1992, prejudicado pelas notícias criminais envolvendo os chamados "bailes funk". O segundo modismo, entre 1999 e 2002, foi prejudicado pelas críticas quanto à vulgaridade explícita, assim como pelas acusações de alienação e idiotização do público ouvinte. O atual modismo foi lançado em seguida, em 2003.

O CASO TIM LOPES E A REPENTINA MUDANÇA DO DISCURSO "FUNKEIRO"

As razões prováveis talvez teriam surgido através do episódio do jornalista Tim Lopes. Carismático jornalista de reportagens populares, sem apelar para o grotesco sensacionalista nem para o policialesco, Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido por esse apelido, realizava reportagem averiguando a prática de sexo explícito e consumo de drogas num "baile funk" da Vila Cruzeiro, região da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro. Foi detido pela quadrilha do traficante local, conhecido como Elias Maluco, e, depois de agressivo interrogatório, foi morto a tiros. Da quadrilha, cinco envolvidos foram detidos, entre eles o próprio chefe do bando, e dois foram mortos em tiroteio com a polícia.

Tim Lopes trabalhava para a Rede Globo de Televisão e investigava a violência e a prostituição (que envolvia também menores) em um "baile funk". Até agora é um mistério o que levou a mesma rede televisiva, praticamente da noite para o dia, a mudar todo o discurso em prol do "funk", praticamente traindo o trabalho de seu falecido repórter.

Embora o diretor de jornalismo da Rede Globo, Carlos Henrique Schroder, em comunicado publicado no site de Tim Lopes, fale em não permitir que "sua (a de Tim Lopes) morte tenha sido em vão", e afirme que "a imprensa brasileira não abrirá mão do seu papel. Nós, da Globo, continuaremos firmes neste propósito", o que se viu foi justamente o contrário. Os "bailes funk" continuam com seu festival de drogas e prostituição, incluindo a pedofilia mais aberta. Só que agora existe todo um verniz de "cidadania", "movimento cultural" e "sexualidade saudável" por trás disso. Só falta fornecer, gratuitamente, preservativos para as adolescentes exercerem sua "sexualidade saudável" nos "bailes funk".

"MÚSICA POPULAR" DE MERCADO - O que leva então a mudança repentina desse discurso? Na verdade, essa mudança acompanha todo um quadro de alteração retórica de todos os ritmos e tendências do brega-popularesco. Espécie de pop comercial brasileiro, ou "música popular" de mercado, o universo brega-popularesco surgiu na virada dos anos 50 para os 60 através de nomes como Waldick Soriano. A música popularesca cresceu ao longo dos anos 70 com Odair José, Gretchen e Benito di Paula, e, juntando elementos da fase pasteurizada da MPB, configurou todo um cenário dos anos 80 e 90 que continua prevalecendo, através da axé-music, da dita "música sertaneja", do "pagode romântico", entre outros.

Ameaçado de perder o reinado mercadológico por sua natural efemeridade e com a reação, em 2002-2003, de artistas emergentes de MPB autêntica (Vanessa da Mata, Cordel do Fogo Encantado, Seu Jorge, Maria Rita Mariano, Yamandu Costa), o mercado brega-popularesco correu atrás de intelectuais, celebridades, artistas e jornalistas que promovessem uma imagem "positiva" de seus ídolos, criando todo um repertório discursivo que se baseia na suposta imagem de "vítimas de preconceito" dos ídolos popularescos que, no auge do sucesso, também são creditados como "vítimas de inveja" de quem não os aprecia.

Talvez isso tivesse aberto uma brecha para o "funk carioca", que já havia ganho um artigo em sua defesa, criado pela jornalista Bia Abramo, que trabalhou na Folha de São Paulo (onde trabalhou o tio, Cláudio Abramo) e Bizz e atua na Fundação Perseu Abramo (pai de Bia). O artigo foi publicado antes da morte de Tim Lopes, mas antes de todas as argumentações nele apresentadas virarem lugar comum em toda a mídia brasileira.

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