Uma coisa já é praticamente consenso: The Book of Souls é o
melhor trabalho do Maiden desde Brave New World (2000).
O fato é que os anos passam e as bandas antigas ficam cada
vez mais tempo sem lançar álbuns novos de estúdio – a indústria fonográfica
mudou radicalmente nos últimos 20 anos e o fato de shows terem passado a ser a
maior fonte de renda de uma banda ajudou nisso -, e os fãs do Iron Maiden
aguardam ansiosos há cinco anos, desde The Final Frontier, por um novo trabalho
do sexteto britânico.
O recente diagnóstico de câncer na língua do vocalista Bruce
Dickinson assustou a todos, que temeram não só pela saúde do baixinho, mas como
por um atraso longo na gravação e lançamento. Porém, a doença foi
descoberta após as gravações – o que faz admirarmos ainda mais a performance vocal
de Bruce no disco.
Mas eis que após a recuperação do vocalista, o Iron Maiden
lançou finalmente The Book of Souls, com produção do “sétimo membro” Kevin
Shirley, e gravado em Paris, no mesmo estúdio onde fizeram o já clássico e
citado Brave New World.
A capa com o Eddie simples e um fundo preto chamou atenção dos fãs. |
If Eternity Should
Fail, composição de Bruce, é a abertura. Diferente do que se espera do Iron
Maiden, uma introdução climática, com Bruce cantando sozinho, até que depois de
um minuto e meio a velha Donzela surge com seus riffs cavalgados e guitarras “gêmeas”.
Um refrão que com certeza será cantado por estádios lotados pelo mundo todo.
Destaco também Nicko McBrain, um dos bateristas mais reconhecíveis da história.
Ele tem o som dele, o tom dele e você sabe exatamente que é ele tocando com no
máximo duas batidas. Trabalha para a canção e ao mesmo tempo se destaca.
Speed of Light foi
escolhida para primeiro single e não é de se estranhar, uma das faixas mais
curtas e diretas do disco; tem boas influências do hard rock setentista nos
riffs (um quêzinho de Blackmore aqui e ali). Típica canção que vai entrar para
o hall dos clássicos compostos em parceria do vocalista com Adrian Smith, um
dos três donos das seis cordas do grupo.
The Great Unknown
é a primeira faixa que o baixista – e CEO da banda - Steve Harris assina a
aparecer. Parceria com Smith e lembra os tempos de A Matter of Life
and Death (2006). Outro refrão que vai soar bem ao vivo e belos solos. É de
praxe em todo disco do Maiden ter o grande épico do baixista – e aqui ele vem
logo na quarta faixa, com The Red and the
Black, que já inicia com acordes de baixo (que se repetem no final) e não
há dúvidas que será uma das que marcarão presença no novo set list da banda.
Tem tudo para levantar a plateia com seu ôoo-ôoo-ôoo.
A sequência de solos é arrebatadora e uma das guitarras seguindo o vocal de
Bruce pela canção deu um algo a mais na faixa.
When the River Runs
Deep parece ter saído direto da fase Somewhere in Time (1986) e Seventh Son
of a Seventh Son (1988), mais uma composição de Adrian Smith – aliás, já deu
para perceber que o cara é um dos destaques aqui. Direta, rápida, pesada e
com mais riffs setentistas no meio. Tem cara daquelas canções que Steve Harris
colocará no show logo depois de algum grande épico para dar aquela agitada no
público. O primeiro CD termina com a faixa-título com seus mais de dez
minutos de duração. Dramática, tensa, é praticamente dividida em duas partes: a
primeira mais teatral e enternecedora, enquanto a segunda parte é o típico
Maiden de solos e bases rápidas com Bruce cantando até a alma no final. Ponto
para Janick Gers, parte do trio de guitarristas, que assina a canção com Harris.
O segundo CD vem com outra típica composição de
Smith/Dickinson: Death or Glory. Uma
paulada de respeito, com esse título Manowarzístico e um refrão onde Bruce me
faz ter a certeza de que ele é o maior vocalista de heavy metal de todos os
tempos. Não é a canção onde ele alcança os maiores tons nem nada disso, é apenas
pelo simples encaixe de melodias e performance vocal, aliados a idade do
vocalista (é só parar para pensar em como estavam as vozes de outros grandes
nomes do heavy metal aos 57 anos). Agora é a vez de Janick Gers aparecer
novamente em parceria com Harris para Shadows
of the Valley; impossível não lembrar de “Wasted Years” na introdução.
Curiosamente, apesar dessa lembrança dos “Golden years”, a faixa como um todo
me lembrou o álbum Dance of Death (2003). É boa.
Tears of a Clown é
aquela que homenageia Robin Willians (comediante americano que se matou devido
à depressão) que não é bem uma homenagem a Robin Williams. A situação de um
comediante ter depressão e acabar cometendo suicídio por isso inspirou a
composição de Smith e Harris (que dupla!). Musicalmente é uma das canções mais
interessantes de toda a discografia do Iron Maiden por explorar um território
de tempos mais quebrados e um ritmo lento. O Maiden vem constantemente sendo
classificado como uma banda mais progressiva nos últimos 20 anos devido às
canções mais longas com longas introduções, que já viraram características da
banda. Mas foi com essa canção, a mais curta aqui, que o Iron Maiden realmente
abraçou o prog. O refrão dramático com mais uma performance matadora de Bruce –
ao mesmo tempo que lembra “Coming Home”, de The Final Frontier (2010), lembra
também algo da carreira solo de Bruce – coroa a faixa.
Vamos chegando ao fim dessa grande obra dramática que é The
Book of Souls. É como se fosse a trilha sonora de um filme. Eu até agora não
consegui escutar as faixas aleatoriamente. Quando começo escutar a primeira vou
até a última e uma hora e meia passam como num piscar de olhos. The Man of Sorrows é uma parceria de
Dave Murray, mais um dos guitarristas, que raramente assina alguma música nos
discos da banda, com Steve Harris. É uma pseudo-balada, que evolui de belas
melodias de guitarra e vocal no início para uma levada trágica (no sentido
dramático da coisa) que vai até o fim.
E por fim, talvez a mais aguardada, Empire of the Clouds. O álbum começa e termina com composições de
Bruce Dickinson sozinho. Com mais de 18 minutos de duração era a mais esperada
pelos fãs a ser ouvida, justamente pelo seu tamanho, que já é a maior faixa
gravada pelo Iron Maiden. Há quem esperasse algo na linha de “Rime of the
Ancient Mariner” (de Powerslave, 1984), mas o que veio surpreendeu a muitos:
pianos tocados pelo próprio Bruce dominam a faixa até cerca dos 4 minutos, quando
o resto da banda entra de vez. As melodias vocais são incríveis e daquelas que
já ficam na cabeça de primeira. A letra é tocante e a interpretação magnânima.
O instrumental não deixa a peteca cair em momento nenhum. Seja nas partes
lentas, rápidas, nas partes mais progressivas ou épicas. Seria um deleite
assistir essa canção ao vivo, mas duvido muito que seja incluída no set list. Encerramento
digno de um trabalho sem igual na história da banda.
A capa com o Eddie original foi criado por Mark Wilkinson e chamou atenção pela simplicidade. Nada de grandes desenhos. Apenas Eddie e um fundo preto. Um belo contraste com o disco que é uma verdadeira viagem de grandes emoções.
Nota 9.
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