Em poucos lugares há tanta falta de bom senso quanto o meio
intelectual.
Não que haja algo de surpreendente nisto. Em “Intelectuais e
Sociedade”, Thomas Sowell dá o diagnóstico. Profissionais como médicos e
engenheiros ganham notoriedade ao fazer apenas o que todos os outros fazem, mas
com excelência. Já no mundo intelectual, os que ganham notoriedade são os que
vêm com algo novo, que fogem ao status quo, que creem ter pensado algo que
ninguém mais pensou. Ainda segundo ele, diz-se que muitos criticam a falta de
bom senso dos intelectuais, mas que isso não lhes é nenhum atrativo. Como,
afinal, poderiam os intelectuais demonstrar sua sapiência superior ao concordar
com todo mundo? George Orwell ironizou uma vez essa presunção ao dizer que há ideias tão absurdas que apenas um intelectual poderia acreditar nelas.
Em nenhum outro lugar tal tendência se mostra tão óbvia
quanto ao tratamento dado por nossa mídia ao “conservadorismo”. Quando vejo alguém
na mídia atribuir a culpa de uma tragédia a uma suposta “onda conservadora” ou
ter calafrios à mera menção do conservadorismo, já sei estar diante de um pulha
ou de um embusteiro.
Ser conservador não é ser reacionário e querer parar no
tempo. É reconhecer que as ideias têm consequências. Ideias são boas ou ruins
de acordo com suas consequências. Pouco importa se essas ideias surgiram na
última década, no último século ou se sempre acompanharam a humanidade.
Qualquer pessoa que não esteja delirando em seu submundo
intelectual particular e esteja mais atento à realidade concreta seria capaz de
perceber tal delírio. O povo é conservador por natureza. Se perguntados sobre o
que creem ser o maior problema na educação da geração atual, a maioria
esmagadora dos pais diriam que é a falta de respeito e de limites. Será que
esses intelectuais que vociferam contra a “onda conservadora” diriam que o
respeito aos mais velhos (e principalmente aos pais) é um preconceito
infundado ou apenas mais uma ideia ultrapassada?
Implícito a essa mentalidade anticonservadora parece estar a
noção de que tudo que é novo é bom – por ser novo. É como se dissessem que as
novas gerações são tão sábias e racionais que não devem nada e não têm nada a
aprender com a sabedoria e a experiência de seus antepassados. Como se todo o
progresso e prosperidade, assim como o conhecimento e os valores e instituições
que tornaram isso possível, fossem apenas uma dádiva de Deus, e não o resultado
dos esforços incansáveis das gerações anteriores. O desdém e o desprezo pelo passado talvez seja uma das maiores formas de ingratidão no mundo de hoje.
Como já disse uma vez o filósofo britânico Roger Scruton, a
mentalidade conservadora surge de um entendimento compartilhado por qualquer
pessoa madura: de que as coisas valiosas são dificilmente construídas, mas
facilmente destruídas. Todo bom conservador não é avesso a mudanças, mas
entende que há valores, instituições, conhecimento, hábitos, costumes e tradições benéficos
que devem e merecem ser conservados e transmitidos às gerações futuras. Os clássicos não são chamados de clássicos à toa. São clássicos justamente porque sua mensagem é atemporal e capaz de transmitir alguma sabedoria para toda a humanidade, e não apenas para a sociedade de sua época. Por que outra razão ainda haveríamos de estudar filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles? A educação é um processo conservador por natureza, pois estamos apenas conservando e transmitindo às novas gerações o conhecimento acumulado por nossos antepassados.
Mas nada disso parece ter importância para os nossos
intelectuais, para quem o “conservadorismo” se torna apenas um bode expiatório,
colocando-o como sinônimo de tudo que há de mais abjeto no mundo, como o
racismo. Aparentemente, para tais mentes simplórias os conservadores não querem
manter o que há de bom, mas apenas o que há de mau, como se conservadorismo
significasse perseverar apenas no vício, nunca na virtude.
Já passou da hora de mandarmos às favas toda essa retórica
anticonservadora, que nada têm feito além de obscurecer o debate e marginalizar
aqueles que creem que muitas das soluções antigas para os problemas da humanidade continuam sendo as
melhores soluções disponíveis. A humanidade não é um gigantesco laboratório em que
se possa ignorar toda a sabedoria do passado apenas para que um pequeno punhado
de seres “ungidos” possam se sentir bem consigo mesmos ao encontrar alguma
solução milagrosa para esses problemas, mas que frequentemente
só tornam as coisas piores. A busca dessa fórmula mágica já causou demasiados
estragos para que continue a ser perseguida impunemente.
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