Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Racismo ou Imaturidade?

Aqueles que acompanham este blog já devem estar cansados de ouvir menções a George Orwell. Infelizmente, para muitos casos ele continua dando a melhor explicação de determinados fenômenos.

Na sociedade totalitária e distópica de Orwell, criou-se uma língua artificial chamada novilíngua. Consistia em impedir o pensamento independente ao esvaziar as palavras de seu significado, fazendo com que significassem apenas o que o partido quer que signifiquem.

Faz um tempo que venho dizendo que racismo, hoje, virou pura novilíngua. Evidente que racismo é uma coisa abjeta. O problema é que o termo foi estendido para além de seus limites razoáveis, a ponto de que qualquer crítica passe a ser considerado racismo. É como se quisessem criar uma casta de intocáveis, fazendo-os acreditar que são vítimas de uma sociedade cheia de ódio e que, portanto, necessitam de proteções especiais. Na prática, isso significa apenas uma coisa: mais poder ao governo, mais intromissão na vida do cidadão.

Eis que encontro esta pérola ao acaso. Trata-se de um projeto na UNB visando "conscientizar" a população do racismo enfrentado por estudantes negros, em que vário negros seguram cartazes com frases que ouviram em sua família, universidade ou emprego. O problema é que, para uma campanha destinada a denunciar o racismo, a maioria esmagadora dessas mensagens passa léguas de qualquer racismo evidente e não aguentariam o menor escrutínio. Pretendo aqui expor e avaliar cada uma dessas mensagens e então colocar minhas considerações finais sobre o assunto. Aqui vai:

Imagine que uma mulher que só transou com homens gordos e peludos encontrasse um magrinho e com poucos pelos que estivesse afim dela e ela dissesse que sempre quis saber como é transar com um homem assim. Preconceito? Ou mera curiosidade?

 
Como se isso não fosse uma situação completamente normal e homens não fizessem o mesmo com mulheres não negras. Já vi algo escrito por uma mulher onde ela mesma dizia que dividia homens entre "este é pra transar, este é pra namorar e este é pra casar". A menos que ela acredite que os homens casariam com prostitutas ou com qualquer mulher com quem aceitassem fazer sexo casual.


 
OK. Esse é um dos poucos que eu poderia considerar racismo mesmo. Próximo.


 
 Ainda que tal mensagem possa ser preconceituosa, preconceito não é sinônimo de racismo. Preconceito é a opinião sem conhecimento prévio ou com conhecimento insuficiente, que pode ser negativo, neutro ou positivo. Se digo que todo português é burro, que todo brasileiro gosta de carnaval e futebol e que todo japonês é trabalhador estarei sendo preconceituoso, ainda que o primeiro seja negativo, o segundo seja neutro (gostar de futebol e carnaval não é mérito nem demérito) e o terceiro seja positivo. Já o racismo é sempre negativo e encara o negro como um ser indigno ou inferior. Se o sujeito tem um preconceito e acha que todo negro é bom de samba, isso não é diferente de um estrangeiro que pensa que todo brasileiro é bom jogador de futebol e que as brasileiras estão entre as mais bonitas do mundo (ainda que nunca tenha visitado o Brasil).

Claro, também existe a possibilidade do sujeito ter dito isso como uma mera brincadeira inofensiva.

 
Idem. Ser passista de escola de samba é algum demérito por acaso?


 É sério isso? Não tem nem o que comentar.

Situação hipotética: um gay quer ser meu amigo. Eu rejeito a amizade porque o acho um porre e ele diz que estou sendo homofóbico. Respondo dizendo que não sou homofóbico e que até tenho amigos gays. Isso quer dizer que sou homofóbico? Essa realmente é abaixo da média.

 Agora dizer para um cara que se considera negro que ele é na verdade um mulato é racismo? Francamente...

 Essa até dá pra dar o benefício da dúvida, ainda que seja difícil dizer se o sujeito é realmente racista ou se ele está simplesmente assumindo que a mulher da foto é racista e consideraria um demérito ser chamada de negra.

 Digamos que eu não ache mulheres com sardas e nariz grande atraentes e diga para uma mulher com ambas as características que ela até é atraente apesar desses traços. Quer dizer que ter preferência por mulheres brancas - da mesma maneira que alguns homens tem preferências por loiras, seios grandes ou outros atributos físicos - é racismo?

 Idem.

 Me pergunto o que a cor dos olhos de uma pessoa tem a ver com racismo, mas não consegui pensar em nada.

 Como se colegas de escola e universidade não vivessem zoando uns aos outros devido a determinados atributos físicos. Ou como se ser idiota fosse sinônimo de racismo só porque o alvo do comentário por acaso é negro.

 Esse é um dos poucos que dá pra enquadrar como racismo.

 É uma pergunta válida. Qualquer alma mais cética que ache que há exageros no assunto do racismo poderia ter feito essa pergunta.

 Isso sim é racismo, não esse mimimi das outras imagens.

 Para o bem ou para o mal, há uma certa tendência a associar determinados traços físicos com gostos específicos. Imagine um sujeito todo musculoso, tipo fisiculturista, que goste de balé. Não lhe causaria surpresa? E isso é o tipo de coisa que afeta tanto negros quanto não negros. De qualquer forma, ainda que dê para enquadrar como preconceito, segue a mesma lógica da quarta foto: preconceito não é sinônimo de racismo.

 Como se isso não fosse o resultado esperado das políticas de cotas e o preconceito aqui fosse contra negros, e não contra cotistas.

 Idem.

 Novamente, como se não fosse normal dar apelidos por causa de determinados atributos físicos. Todos chamam meu pai de magrão e conheço uma doméstica que todos chamam de neguinha. Nunca deram a mínima.

 Idem.

 Mais uma vez a questão dos apelidos devido a similaridade de atributos físicos. Já tive um colega que apelidaram de Ozzy e já tive uma personal trainer que todos chamavam de Xuxa. O que isso tem a ver com preconceito e discriminação?

"Não sou prostituta, apenas faço sexo em troca de dinheiro."

Conclusão: racismo existe e é condenável? Certamente. Mas é preciso saber separar o joio do trigo e cuidar de vítimas reais ao invés de vítimas de faz-de-conta. Parar com essa paranoia de achar que qualquer comentário desagradável dirigido a um negro é fruto de racismo a ponto de dizer que "é como andar em um campo minado" por causa de comentários tão triviais. É como se estivessem o tempo todo pensando em como usar o que os outros dizem contra eles mesmos para que possam posar de vítimas e pedir privilégios especiais. Discurso perfeito para oportunistas de plantão e levados adiante por idiotas úteis. Já passou da hora de desmascarar este embuste de uma vez por todas.

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