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quarta-feira, 13 de abril de 2016

A Esquerda Vive de Narrativas: Parte 2

Por: Rafael Andreazza

Esses dias um conhecido meu, claramente esquerdista, compartilhou este link, entrevistando um sociólogo preocupado com o clima de caça às bruxas contra ideias de esquerda, dando destaque a um argumento estapafúrdio do sociólogo em questão:

A realidade da universidade no Brasil, hoje, não tem nada a ver com isso (Doutrinação marxista). Na verdade, o que eles chamam de marxismo é qualquer coisa que envolva a defesa de direitos humanos, direitos sociais, de “minorias”, e de tudo o que, nestes últimos doze anos, possa ter significado um avanço social. Com todas as críticas que se possa ter, os governos do PT avançaram muito deste ponto de vista. Lula promoveu no Brasil uma espécie de pacto social, trazendo para o governo outros partidos e outros setores, incluindo o empresariado. Em troca disso, conseguiu inserir na agenda do País o combate à miséria, ações afirmativas, políticas de enfrentamento da violência contra a mulher e uma série de outras coisas que não estavam na pauta política nacional. Isso tem alguma coisa a ver com marxismo? Não tem nada a ver. Está mais para uma agenda social-democrata, de ampliação do Estado democrático de direito para setores que, historicamente, ficaram de fora. Foi isso o que aconteceu no Brasil.
 Chega até a ser engraçado afirmar que existe uma perseguição ideológica contra as ideias de esquerda na universidade. Tanto que a USP chegou recentemente a criar um coletivo da "juventude anticapitalista e revolucionária" e a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) chega até ter um "centro de difusão do comunismo". Veja bem: não é nem de ESTUDOS sobre o comunismo, mas de DIFUSÃO.

De resto, a fala em questão chega a ser patética. Se o Brasil avançou nesses 12 anos, foi apesar do PT, e não por causa dele. É muito fácil, por exemplo, aprovar uma lei Maria da Penha e dize que está "valorizando a mulher", mas onde estão os dados estatísticos comprovando que a violência contra a mulher realmente diminuiu? Vale lembrar que a violência e a criminalidade nesses anos só aumentou. Que espécie de avanço nas "políticas de enfrentamento da violência" é esse que segue lado a lado com um aumento da criminalidade?

Outra afirmação ridícula foi de que o PT ampliou o "estado democrático de direito para setores que, historicamente, ficaram de fora". Quer dizer então que se não há uma lei específica para cada grupo específico isso quer dizer que eles não são contemplados pela lei? Isso sem falar em tudo que o PT fez esses anos para DESTRUIR o Estado Democrático de direito, como o controle de mídia (rejeitado pela câmara, felizmente) e o Decreto Bolivariano que daria mais poder à "sociedade civil", sendo que o que eles chamam de "sociedade civil" nada mais são do que coletivos ideologicamente alinhados com o governo, como o MST. Chega a ser patético dizer que houve uma ampliação do Estado Democrático de Direito quando o PT também nada fez contra a plutocracia nefasta que assola o país, colocando políticos (em especial do partido) acima da lei enquanto cria um verdadeiro culto de personalidade à figura do ex-presidente, tratando-o como uma espécie de semi-deus (parece que ele não entendeu a parte da igualdade perante a lei exigida por um verdadeiro Estado Democrático de Direito).

A parte da vanglorização das leis afirmativas é outra balela que, além da falta de evidências de sua eficácia, só servem para polarizar a sociedade, acusando os opositores de serem "elitistas" que não querem que os pobres melhorem de vida. Ignoram que foi justamente um liberal - Milton Friedman - que defendeu a política de vouchers, que consiste no governo pagar bolsas para que os pobres possam estudar em boas escolas particulares ao invés de ter escolas administradas pelo governo. Chega a ser digno de nota que a esquerda que rejeita e ignora os vouchers é a mesma que defende políticas de cotas sob o argumento estapafúrdio de que os pobres estão em desvantagem no processo de seleção universitário por não terem acesso a escolas particulares de melhor qualidade. Pior: implicitamente neste argumento, estão dizendo que a escola pública não presta, mas a solução sugerida por muitos na esquerda não é mandar os pobres para escolas privadas, e sim tornar todo o ensino básico público porque as escolas privadas "não se importam com a qualidade do atendimento" porque "visam o lucro e não o atendimento das necessidades da sociedade". A mesma esquerda que fala em aumentar o acesso à educação e em melhorar a vida dos pobres também nada faz ou diz contra a burocracia asfixiante que impede outra rota de saída da pobreza: o empreendedorismo. Em todos esses anos de PT, a liberdade econômica do Brasil só despencou. Isso sem contar as tentativas de aumentar impostos e recriar a infame CPMF.

Por último, a piada do dia mesmo foi o enfrentamento da miséria. Por mais que programas como o Bolsa Família possam ter até tirado várias pessoas da miséria, o que mais que o PT entregou esses anos todos às classes baixas? Inflação galopante, fuga de investimentos e a pior crise das últimas décadas. Tudo isso ao mesmo tempo que enche o bolso de empresários como o Eike Batista, e emprestam bilhões para ditaduras.

A mesma esquerda que diz se preocupar com os pobres é aquela que afunda as pessoas na pobreza. A mesma esquerda que vai às ruas protestar por passe livre não dá um pio sobre os repasses bilionários a ditaduras ou ao corte de 6 bilhões na educação. A esquerda é puro cinismo e hipocrisia.

Intelectuais como Thomas Sowell já falavam sobre esse tipo de artimanha. Intelectuais (juntamente com seus admiradores e defensores) que querem apenas pensar bem de si mesmos, mas estão pouco se lixando para as consequências do que pregam.

A esquerda vive de narrativas e propaganda. Na impossibilidade de entregar resultados concretos, é tudo o que lhe resta.


Mais: A esquerda vive de narrativas, não de fatos ou verdades
http://shogunidades.blogspot.com.br/2016/04/a-esquerda-vive-de-narrativas-nao-de.html

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