Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Moradores de rua viciados em crack são presos como traficantes

Quando um furgão chegou à Polinter do Grajaú transportando presos, no início da noite da última quinta-feira, perfilados e algemados, alguns chamavam a atenção por conta das roupas sujas e esfarrapadas. Eles fazem parte de um grupo que cresce vertiginosamente: em média, sete dos 25 detidos que entram diariamente na unidade são identificados como moradores de rua.

A quantidade de mendigos aumenta nas carceragens da Polícia Civil do Rio seguinda a expansão do consumo de crack, levando à prisão viciados que, são tratados como traficantes de drogas.

Devido ao crescimento do número de presos o diretor da Polinter começa a estudar a possibilidade de criar celas exclusivas para eles, o principal objetivo da medida seria evitar ou diminuir os riscos de disseminação, entre detidos e policiais, de doenças como tuberculose, sarna e até hanseníase. A maior parte dos moradores de rua chega à carceragem com problemas de saúde. O diretor informa que ainda não colocou em prática o plano de isolamento pois teme a estigmatização do grupo.

Grande parte dos moradores de rua acabam presos por tráfico quando deveriam ser autuados por uso de drogas. Um jovem de classe média quando é detido com uma pequena quantidade de droga é liberado após sua autuação como usuário, já um morador de rua que vai parar numa delegacia acaba sendo condenado ao invés de ser encaminhado a tratamento.

Eu como morador do bairro da Glória acompanho diáriamente a rotina de algumas dessas pessoas que mais parecem agir como zumbis nas ruas. Brigam entre sí, tentam adquirir dinheiro para sustentar seu vicio vendendo todo tipo de tralha velha que encontram, pedem dinheiro aos pedestres (isso quando conseguem dizer uma frase compreensível) ou partem para o roubo de moradores ou de cabos de cobre das praças e postes da região.

Na verdade, esse não é um problema policial, mas de assistência social, de saúde e ordem pública. O governo não investe em locais e centros sociais onde essas pessoas possam receber algum tratamento digno.

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