Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Shogunidades e Humor: Vingança

Em tempos em que a justiça pelas próprias mãos passou a ser um assunto digno de noticia nos tele jornais resolvi abordar o tema de uma forma mais amena. Nada de "vingadores" contra criminosos. Vou apenas tratar do assunto: Vingança juvenil.

Ah a vingança... como um dos sentimentos mais destrutivos do mundo pode ser tão saboroso e tão perigoso?

O cinema assim como os quadrinhos, livros e a televisão costumam abordar o tema de forma muito lucrativa onde filmes programas, séries e revistas de muito sucesso geraram ícones pop como: Demolidor (Dare Devil), Punisher, Max (Mad Max), V (V de vingança), Ben Hur, Beatrix Kiddo (Kill Bill), capitão Maximus (Gladiador) entre outros vingadores.

Há uma glorificação da vingança onde quase sempre o vingador é mostrado como um anti-herói. Em certos casos o vingador é apenas o que chamo de "veículo do destino". A vingança para mim nada mais é que um meio de se fazer cumprir com a lei do retorno: "Aqui se faz, aqui se paga".

Esse texto não tem como intenção fazer uma apologia à vingança tentem ver com humor, pois é apenas um relato baseado em lembranças e conclusões. Um relato que, espero eu, leve a uma reflexão do quanto algumas pessoas deveriam pensar duas vezes antes de meter com alguém ou de levar adiante uma vingança.

Eu tenho um pensamento nada construtivo, eu admito, que possivelmente surgiu graças a minha infância de filho único, egoísta, criado por mãe divorciada, num bairro de classe baixa da Baixada Fluminense durante os saudosos anos 80. Pensamento este que irei compartilhar com vocês: Não se meta comigo!!

Lembro de dois casos na infância que retratam bem essa filosofia de vida.



Bullying - Pois bem, sempre haverá em qualquer bairro, escola ou prédio aquele cara babaca que gosta de compensar algum problema emocional ou sexual escrotizando a vida dos outros.

Eu por muito tempo na minha infância fui aquele moleque gordinho de óculos que todos gostavam de tirar onda. Vivi em um morro na Baixada Fluminense, onde as crianças podem ser bem mais crueis que o normal com aqueles que fogem ao estereótipo da normalidade, e também pela má educação que recebem de seus pais. Gente que ensina a seus filhos pensamentos que levam muitos a sair por aí querendo ser mais homem que o outro. Muito colega de infância meu, não passou dos 20 por isso.

Aos meus 11/12 anos, havia em minha rua um moleque mais velho e mais alto que adorava avacalhar todos os garotos da rua com brincadeiras de conteúdo duvidoso. Coisa de moleque, como abaixar as calças dos desavisados que passassem e expo-los ao ridiculo exibindo suas cuecas de patinhos... cof, cof... ou sua genitália para as velhas taradas da rua e os demais moleques. Eu obviamente, pelos motivos citados acima, era uma vitima mais que perfeita para o "bully" em questão. Tendo sofrido várias vezes o mesmo ataque na rua e sendo ridicularizado pelos presentes em todas elas.

Por dias estudei os hábitos da vitima, percebendo que este sempre passava em um beco que ficava ao lado de minha casa. Eis que elaborei um plano maligno de vingança, que consistia somente em causar dor física.

Suponho que esta situação foi a responsável por desencadear este sentimento por vingança que nutriria a alma deste que foi uma criança balofa (e hoje é um gordo barbudo). Então, como um "vingador" novato ainda não tinha a maldade e classe de devolver na mesma moeda: pagar humilhação e exposição ao ridículo da mesma forma.

Aguardei por uma tarde inteira para que meu desafeto passasse pelo beco e lá tinha um belo pedregulho endereçado para seu crânio a sua espera. E assim foi feito TUM! Abri-lhe um belo rasgo no quengo. Obviamente fui punido, fiquei de castigo, mas terrivelmente satisfeito.

Conselho: NUNCA SE META COMIGO!!

Curiosamente os ataques pararam, nem tanto pela minha vingança, mas pelo temor da mãe do moleque que isso pudesse tornar a acontecer. Antes ela que fazia vista grossa ou até mesmo ria dos moleques com quem seu filho implicava passou a ver um outro lado. Já que mesmo castigado, pela minha mãe (que nunca defendeu ou encorajou este meu comportamento) ameacei repetir em dose ainda pior o que fiz caso seu filho aprontasse mais.

As vezes, conversar com os pais pode ser mais benéfico. Se isso não resolver... pau nos otários!

Um outro caso era de um outro moleque que tinha o hábito de roubar ou bater nos demais garotos da rua, e comigo não era diferente. Até um dia que convenci minha mãe a me matricular em aulas de karatê para que pudesse praticar um esporte. Passados dois meses de aula, puz em prática o que aprendi com esse garoto, tendo resultados bem satisfatórios. Resultado: saí do karatê. Afinal já tinha conseguido o que queria. Esse aprendizado curto me garantiu ainda alguns anos de "respeito" na escola contra os bullys. Minha mãe, pobre coitada, se soubesse que esta seria minha única motivação, talvez não tivesse me matriculado...

Hoje penso que perdi uma oportunidade de praticar um esporte, não para bater em outras pessoas mas, para ter uma vida mais saudável. Fosse meu filho forçaria a barra para continuar. Ao invés de focar na vingança poderia ter aproveitado melhor um esporte.

10 anos depois encontrei esse mesmo cara, que era notoriamente conhecido no morro como um desajustado devido sua mãe omissa e família onde alguns tinham ido para um mal caminho. Porém, naquela época ele estava às voltas com a igreja e era uma pessoa bem mais tranquila. Foi grande a minha surpresa quando ao conversarmos eu ele e outros caras, alguns até eram projetos de bandido e estavam o bajulando - Quando você mora no morro, você convive com todo tipo de pessoa e as vezes você se vê obrigado a dividir um espaço com quem não gostaria - ele contou que eu fui o primeiro cara que o enfrentou e lhe bateu. E que isso de alguma forma mostrou a ele que deveria pensar antes de agredir ou implicar com alguém. Aos aprendizes de bandido ele deu uma pequena lição de moral, a mim ele me cumprimentou e disse que me respeitava, pois ao contrário dos outros eu continuava estudando.

Se você pensar bem, nas duas situações colocadas, eu escapei de possíveis retaliações que poderiam ser muito mais perigosas.

Baseado nisso a frase abaixo simplifica bem a questão:

Ouçam esse cara. Ele sabe o que diz, mesmo que ele não pratique isso já que sempre que pode mete um cascudo no pobre do Chaves

Eu admito. Ainda hoje uso o recurso da vendeta com aqueles que de alguma forma me ferram ou fazem de minha vida miserável de alguma forma. Porém aprendi a tentar fazer dela um instrumento educativo deixando uma clara lição...

NUNCA SE META COMIGO PORRA!!

Falando sério, creio que seja possível dar uma lição em alguém sem perder a classe e a razão e sem alimentar dentro de sí os sentimentos ruins que costumam aflorar numa vingança. Há de se pesar sempre que um gesto de vingança pode encerrar definitivamente qualquer possibilidade de reaproximação.

Um exemplo sadio de vingancinha é quando você precisa acordar cedo para fazer uma prova, lá no c... de Bonsucesso, e um playboy estaciona seu lindo carro vermelho lotado de caixas de som executando um funk da pior espécie ÁS 3 DA MANHÃ!!!!!! E não importa o quanto você ligue para 190. A PM estará cagando para isso. Você pode, de forma muito classuda, subir em sua cama encostada na janela baixar seu shorts e enviar uma chuva dourada sobre o capô do carro do babaca em questão. É bem possível que ele suma da frente de seu prédio para evitar que coisas piores venham a sujar seu possante.

Seria ótimo se ninguém ultrapassasse a linha do respeito alheia. Mas enfim, não adianta, sempre vai existir um cara para estragar o seu dia. A forma como você vai lidar com isso é que pode definir se este cara irá continuar estragando ou não o seu dia. Eu dei sorte na maioria das vezes. Mas eu garanto. Em outras oportunidades tive resultados bastante questionáveis.

Em certos casos e com certas pessoas talvez o melhor seja mesmo não tentar aproximação e nem tentar descontar o prejuízo e deixar para lá principalmente se você não está apto para executar tal vendeta. Pense nisso.

3 comentários:

  1. Cara mas tem vezes, que o certo e agir dessa forma que você agiu não tem outra forma já que autoridades não atendem nossas solicitações, na constituição mesmo diz que é proibido som alto (baderna) após as 22:00 os policiais que foram negligentes. Eu teria agido de forma similar!

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  2. Eu também boto pra F****....não quero saber!

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