Millor Fernandes:
Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.
sábado, 20 de outubro de 2012
Acessibilidade no Brasil é uma grande farsa.
Eis o relato do drama de um fã de Ozzy Osbourne que deu duro pra conseguir comprar um ingresso pro show e mesmo assim não pode assistir pois a organizadora T4 FUN deixou claro não haver lugares pra quem era deficiente como ele.
Fonte: Corvos e Abutres
Venho relatar um caso que aconteceu comigo a pouco mais de um ano. Espero que esta mensagem chegue ao maior número de pessoas possível.
Para todos que me conhecem sabem que eu sou portador de uma deficiência motora, nasci de 6 meses de idade e isso fez com que não houvesse oxigênio no meu cérebro, logo eu tenho que usar um par de moletas para auxiliar na minha locomoção. Isso por si só não é fácil, ainda mais no Brasil.
Como todos sabem e isso fica evidente no meu blog eu sou um apaixonado pelo rock N roll. Ele me ajudou muito, tanto na minha formação quanto ateu quanto na minha liberdade para com a sociedade.
Todos sabem que eu sou um grande fã do Ozzy Osbourne, eu admiro o trabalho dele a alguns anos. Tenho tudo, CD's, camisas, livros e afins. Pois é, ano passado aconteceu o fato que eu mais esperava: O mestre Ozzy veio ao Brasil. Sim, ele veio. Passou por várias cidades, incluindo São Paulo que é a cidade que eu moro.
Foto: Gustavo Vara
Pois é, ai que começa meu drama, poucos meses antes eu comecei a juntar uma grana para poder ir no show. Minha família não é rica, tive uma tremenda dificuldade para poder juntar os 100 reais. Tirei de coisas importantes para poder comprar o ingresso.
Finalmente o dia estava chegando perto. A data do Show estava mais próxima que nunca, então eu resolvi ir junto com a minha mãe comprar o ingresso. Era um dia chuvoso e eu lembro como se fosse hoje. Eu com a minha primeira camisa do Ozzy todo sorridente indo comprar o ingresso.
Infelizmente eu não pude comprar o ingresso naquele dia porque me faltava uma declaração de escolaridade para poder comprar a meia entrada. Ok, dias depois minha mãe foi comprar o ingresso. Eu estava muito ansioso para isso, era o meu momento, estaria próximo daquele que era meu herói.
Estava eu ansioso para ter meu ingresso, mas para meu desânimo eu recebi uma ligação. Era minha mãe na linha. Ela dizia que não havia como ter um lugar para uma pessoa como eu, de moletas, o que havia era lugares para cadeirantes, mas eu não era cadeirante.
Ainda me deram a escolha "Você pode comprar o ingresso, mas não garantimos que aja algum lugar para você", depois foi passado para minha mãe que eu teria que ir direto na pista e que se eu me machucasse ela seria responsável. Foi um verdadeiro terrorismo psicológico com ela. Foi realmente terrível, tendo em vista a situação e o terrorismo eu optei pela minha integridade física.
Ainda buscando meus direito eu liguei para a central que organizaria o show e eles falaram que se eu quisesse poderia ir de cadeira. Tipo, que merda é essa? Eu teria que virar cadeirante para ter um pleno acesso ao show? Isso está entre as coisas mais absurdas da terra.
Eu me senti arrasado na época, no dia do show eu ficava olhando para o relógio e vendo as horas até que eu pensei "Nessa hora ele está entrando no palco" eu sorri e umas lágrimas escorreram do meu rosto. Foi um momento muito triste, ainda mais quando eu soube que houve um encontro com os fãs. Pensei "Podia ser eu".
Em muitos momentos eu mesmo pensei que poderia mergulhar na pista e me arriscar ao extremo de ser arrebentado, mas tudo pelo meu sonho. Me senti culpado por ter essa limitação. Senti que podia ser diferente se eu fosse diferente, mas no fim eu vi que não era eu o culpado, mas sim a falta de preparo do evento.
Logo eu fui procurar meu direitos. Entrei com um processo na defensoria pública. A burocracia é tão grande, a demora é tão grande que eu só fui ter algum contato com o processo meses depois. Isso me deixou claro que neste país quem não tem grana se ferra. Isso é bem evidente.
Mais meses se passaram e no final de 2011 eu tive o primeiro contato com a minha advogada. Devo ressaltar aqui o empenho e o interesse dela no caso. Isso ficou bem claro no primeiro contato. Ela demonstrou indignação e até disse "Se fosse um show de outro cantor, mas poxa, do OZZY. Quem sabe quando o OZZY volta pro Brasil?". O empenho dela é bem claro e eu gostaria de ressaltar isso nessa postagem. O problema é que os advogados públicos são sobrecarregados e atravancados por uma grande quantidade de processos, burocracias e etc... Isso faz com que o processo demore meses ou até anos para uma conclusão.
Ela me disse ainda no fim de 2011 que a primeira audiência sairia no fim deste ano ou no começo do outro. Pra vocês terem noção do quanto a justiça demora. É desesperador essa espera, é terrível, mas eu não pretendo desistir.
Eu pretendo ir no show do BLACK LABEL SOCIETY esse ano, quando fui ver os ingressos para o show eu pensei em comprar os ingressos mais caros [logo, mais sacrifício para ter o dinheiro] para poder ter uma acessibilidade assegurada, mas eu me esqueci que ter acessibilidade é um direito meu, logo eu vou comprar o ingresso para a pista e vou ficar numa área para deficientes [espero que aja] e curtir o show.
Minha mãe ligou várias vezes para programas como o fantástico que promoveu um encontro de um garoto com os membros do KISS. Eles não deram a mínima, mesmo tendo feito uma entrevista com o Ozzy que foi ao ar poucos dias antes do Show. A mídia não mostra isso, não é? Não quando não é conveniente para ela. Isso é deprimente, revoltante e vergonhoso. Vivemos num país onde a justiça é lenta, a mídia é falsa e a acessibilidade é uma faxada.
Por Luan Ferreira
Comentário: É inadmissível que isso aconteça. Todos temos direito ao acesso a cultura, todos temos o direito de ir e vir - Embora a maioria de nossas calçadas e muito motoristas ignorem a existência dessas pessoas - Infelizmente no Brasil pouco ou quase nada é pensado para cadeirantes e demais deficientes. Se há vaga para cadeirantes é porque existem leis municipais que OBRIGAM casas de shows, cinemas, teatros e estádios a terem um local destinado.
Mas no caso de um show isso é ainda mais grave. Será que as produtoras de eventos não conseguem cogitar que possam existir fãs de musica deficientes interessados em assistir aos shows?
Será que é tão difícil à produtora T4 FUN providenciar uma simples cadeira próximo a vaga de cadeirantes para um cidadão que faça uso de muletas assistir ao seu show em paz e em segurança? Ou a má vontade não permite?
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"Se a prudência da reserva e decoro indica o silenciar em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de uma ordem maior pode justificar a atitude de dizer o que pensamos." - (Edmund Burke)
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