Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Os "dois pesos, duas medidas" de esquerdistas e 'olavetes'

Negar a existência do machismo é o mesmo que negar a existência do racismo, isso é fato! O uso que ideologicamente se faz disso é que é asqueroso. (Bené Barbosa)




Uma recente pesquisa apontou que 65% dos brasileiros acham que mulher de roupa curta merece ser atacada.

Fonte: Estadão

 O estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) retrata o quanto a violência contra a mulher ainda é tolerada no País. A maioria dos brasileiros considera que merecem ser atacadas aquelas que usam roupas que revelam o corpo. Também é majoritário o grupo que acredita que, "se a mulher soubesse se comportar", as estatísticas de estupro seriam menores.

Realizada entre maio e junho de 2013, a pesquisa aponta ainda que, para 42,7% dos entrevistados, mulher com roupa que mostra o corpo merece ser atacada. Além disso, 63% concordaram, total ou parcialmente, que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família”. E mais: 89%, somando aqueles que concordaram totalmente e parcialmente, disseram concordar que “a roupa suja deve ser lavada em casa”. O percentual dos que acreditam que “em briga de marido e mulher não se mete a colher” também foi alto: 82%


A pesquisa, que deve ser analisada com certa desconfiança, mostra que o povo brasileiro ainda precisa evoluir muito como indivíduos. E no que se refere a liberdade individual, ainda estamos mais para Índia do que para Europa. O que assusta de verdade é enxergar este pensamento em pessoas esclarecidas com ideias mais à direita. Não que esquerdistas façam oposto. Pelo contrário, a 'canhotada', mesmo que as vezes se expresse de forma exagerada é unanime "Roupa curta não é justificativa para estupro ou assedio".

Rodrigo Constantino comentou hoje o fato mostrando o claro uso de dois pesos duas medidas por parte da esquerda quando ela culpa uma vitima de roubo por ostentar (Lei Sakamoto). Mas quando se trata de um estupro ou assédio ela não utiliza tal raciocínio.

Após participar de três debates sobre o assunto me vi na obrigação de comentar a pesquisa e o post de Constantino tratando a coisa por um ponto que ele não mencionou e por mais que tenha deixado claro deixou brechas para manipulação de ideias por parte de feministas e esquerdistas em geral e inclusive de moralistas de plantão.

Se é verdade que a atual "cultura popular" dá espaço para erotismo exagerado, estimulando vulgaridade, por outro cabe lembrar que por mais que moça que vá a um baile funk sem calcinha e se drogue. E obviamente corre muito mais risco de ser violentada. Não quer dizer que ela mereça ser violentada. Esse ato não é uma permissão para qualquer um decidir "entrar no meio dela".

Você pode até aconselhar. Ela faz o que quiser. Se o pior acontecer, ainda assim não pode ser creditado pelo fato de a moça estar sem calcinha, pois é bem possível que aquele gesto tenha o intuito de chamar a atenção de uma pessoa específica.

Assim como puxar um Iphone em um ponto de ônibus escuro na Av Brasil te coloca na situação de risco de ser assaltado. Não significa que você mereça ser assaltado.

Estou usando este exemplo porque foi o exemplo mais comum citado nos debates que participei ou apenas lí.

Fala-se em "aconselhar a mulher e ter mais prudência". O que seria ter prudência? Andar praticamente de burca no verão carioca porque se a moça tiver seios fartos e decidir usar uma blusa mais fresca ela pode ser apalpada de várias maneiras num ônibus? Estupros acontecem aos montes no Oriente Médio e Africa exclusivamente porque a sociedade tolera este comportamento e algumas religiões são permissivas com o homem culpando apenas a mulher.

A pesquisa deixa claro que o brasileiro tem certa tolerância a este tipo de gesto, não estou falando simplesmente de estupro - que é lugar comum um ato monstruoso e condenável - estou falando de assédio em geral. Quando a coisa chega ao ponto de um assédio grosseiro ser confundido como uma cantada. Tanto por homens sem qualquer educação quanto por feministas mais alopradas. E quando o debate descamba para o termo "Mulheres desonestas" aí a coisa piora, porque neste termo temos um claro juízo de valor. Assim como quando se usa o argumento da "moça que vai para o baile funk sem calcinha" tem alto juízo de valor implícito.



O fato é que um estuprador ou um assediador não precisa que uma mulher esteja em trajes mínimos para violenta-la ou assedia-la grosseiramente. Lhe basta a vontade de cometer o ato e total confiança da impunidade.

O mesmo vale para o criminoso que rouba um celular, um carro e uma casa. Basta ter a oportunidade e uma série de defensores esquerdistas e gente da OAB culpando a sociedade pelo seu ato.

O ideal é que as mulheres pudessem sair na rua como bem entendessem e na hora que bem entendessem. Sem se preocupar de serem molestadas ou de ouvir certos comentários. E que nós homens soubéssemos nos comportar como homens, não como animais no cio.

O não combater esta ideia nos leva ao absurdo de termos aqui no Rio carros exclusivos para mulheres no metrô e nos trens. É a solução estatal que remete a uma antiga frase que dizia "Prendam suas cabras que o meu bode está solto". Temos que alertar as moças de que usar um decote, ou saia curta no Brasil é visto como um convite a assédio e até o estupro. Estamos ou não mais próximos da Índia?

Do mesmo jeito que todos nós poderíamos portar nossos celulares tranquilamente em qualquer lugar e em qualquer hora. Sem medo de algum "excluído social" resolver praticar "reapropriação direta".

É uma pena que o mesmo pessoal que semanas atrás queria a cabeça do Paulo Ghiraldelli pelas declarações infelizes e criminosas contra a jornalista Rachel Sheherazade. Hoje venha a público negar o óbvio. De mesma forma que feministas desejam estupro para moças direitistas que recusem as ideias do feminismo só para elas "sentirem um gostinho do machismo opressor".

Neste dois casos conservadores que aqui chamo de 'olavetes' - não significa que todo leitor do Olavo seja assim - e esquerdopatas - não significa que todos sejam assim, pois conheço esquerdista a favor do armamento civil - tem algo muito em comum. Ambos conseguem enxergar duas situações idênticas e classifica-las de duas formas distintas fazendo claro uso de "dois pesos duas medidas" naquilo que lhes convém.

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"Se a prudência da reserva e decoro indica o silenciar em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de uma ordem maior pode justificar a atitude de dizer o que pensamos." - (Edmund Burke)