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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A Era das Fobias

Por: Rafael Andreazza Daros

Recebi respostas indignadas ao texto do meu colega Kleryston Negreiros por sua postagem para o Shogunidades fazendo uma análise do termo homofobia (que pode ser lida neste link). Na crítica em questão, a indignação foi por uma diferença de perspectiva. Enquanto que eu entendi que a esquerda inventou o termo para capitalizar politicamente, esta pessoa não se conformou porque estaríamos polarizando a discussão ao chamar os esquerdistas de idiotas simplesmente por usarem um termo de uma forma que não concordamos. Ou, nas palavras dela: "Dane-se como chamam a Homofobia. Ela é um problema, ela existe. Eu não sou esquerdista e quero que haja um combate a esse tipo de preconceito, assim como ao racismo e assim com a qualquer outro tipo de preconceito.(...) a Homofobia existe independentemente de orientação política. Se algumas pessoas da esquerda usam esse termo de forma que você não concorda é uma coisa... mas isso não é invenção de esquerda... é uma realidade". É uma crítica válida e digna de consideração. Pretendo aqui explicar de uma maneira mais clara qual o perigo destes neologismos esquerdistas.

Preconceito de todas as formas existe e sempre existiu. Dos mais diversos tipos: contra ateus, contra praticantes de religiões não-oficiais, contra estrangeiros, contra negros, etc. Não pretendo minimizar aqui o sofrimento individual sofrido por preconceitos específicos. Mas alguns fatores devem ser levados em consideração.

O primeiro é a diferença entre preconceito e discriminação. Embora tal distinção raramente seja feita, são 2 coisas completamente diferentes, e uma não necessariamente leva a outra. Preconceito é uma reação emocional, uma aversão a determinados grupos ou comportamentos. Discriminação é a prática de se selecionar indivíduos a dedo ou separá-los por grupos, independente do critério de seleção, e então aplicar um tratamento diferenciado para cada parte. Mas, em resumo, o importante a ressaltar aqui é que o preconceito é uma REAÇÃO EMOCIONAL, ao passo que a discriminação implica em uma AÇÃO NO MUNDO REAL. Esta distinção é de extrema relevância.


Uma das falhas lógicas ao se falar de preconceito é assumir que o preconceito necessariamente leva ao comportamento discriminatório. Mas, apesar de ser contra-intuitivo, pode haver preconceito sem discriminação e discriminação sem preconceito. Como bem notado pelo economista Thomas Sowell, o que é realmente importante na questão são os CUSTOS da discriminação. Um vendedor racista, principalmente em épocas de crise, não pode se dar ao luxo de perder receita ao discriminar consumidores negros e atender somente aos brancos. Da mesma maneira, um empreendedor não pode se dar ao luxo de pagar mais caro por seus insumos caso tenha preconceito contra aquele fornecedor mais barato e eficiente. Pelo menos, não sem arriscar a sobrevivência financeira de seu próprio negócio.

Do lado oposto, como pode haver discriminação sem preconceito? Sowell ainda nos dá um exemplo. Em lugares onde características indesejáveis são maiores em determinados grupos raciais ou étnicos (como criminalidade e índice de violência), usar tal característica para discriminar possíveis clientes ou sócios é uma maneira de baixo custo para diminuir os riscos desta transação, principalmente quando os métodos alternativos são menos precisos e mais custosos. Assim como há custos para uma discriminação irracional, também há o custo da informação. Em situações onde a informação é cara e adquiri-la levaria mais tempo do que o que se tem disponível, é necessário apelar para métodos menos precisos de se separar o joio do trigo entre os possíveis candidatos. Um empregado recém-formado pode ser tão bom quanto um com anos de experiência, mas o custo de conhecer tal candidato suficientemente bem antes de se tomar tal decisão tem seu custo em tempo e em dinheiro de que as empresas não dispõem. Para isto serve a seleção por currículo. Da mesma maneira, também há casos nos EUA onde taxistas negros evitam pegar passageiros negros após o entardecer. Esta prática é perfeitamente justificada e compreensível em lugares onde a taxa de criminalidade entre os negros é mais alta do que entre não-negros: o taxista não tem como verificar os antecedentes criminais de cada passageiro.

E o que isto tem a ver com homofobia? É aí que entre o perigo destes neologismos. Tais termos, quase que invariavelmente, buscam ofuscar ou mesmo destruir esta distinção. Note que, como o próprio termo "fobia" sugere medo, que por sua vez pode levar ao ódio, deixa-se subentendido que o sujeito que tem preconceito contra gays obviamente nutre alguma espécie de ódio contra os mesmos. 
Há diversos graus de preconceito, que podem ir desde o cara que simplesmente "tem nojo" de gays ou não quer amizade com eles até o sujeito que quer ver todos os gays mortos simplesmente por serem gays. Esta distinção praticamente nunca é feita pelos veículos da mídia, que usam e abusam de termos como "crimes de homofobia" ou "assassinato por homofobia". Isto tende a criar uma conexão que não existe na realidade, como se o preconceito contra gays necessariamente fosse levar ao comportamento discriminatório e mesmo violento.

Resumindo: uma vez que o termo "homofobia" pode ser usado indiscriminadamente para qualificar desde um preconceito bobo até o ódio aos gays, a manipulação retórica aqui é capaz de criar uma equivalência moral entre um sujeito que tem um simples preconceito - que pode ou não se traduzir em uma ação discriminatória real - ao sujeito que, de fato, violenta os gays simplesmente por serem gays. Desta forma, uma pessoa agindo de pura má-fé pode facilmente degradar seu oponente à uma espécie de escória moral, como se o sujeito que simplesmente"tem nojo" de gays, logo homofóbico, nutrisse necessariamente ódio por eles e tivesse propensão a violentá-los. Ou ainda pior: detratar um oponente político simplesmente por sua discordância a alguma pauta que trate dos direitos dos homossexuais. Um exemplo nos foi dado em um discurso recente do pastor Marco Feliciano, que relatou ter sido chamado de homofóbico simplesmente por dizer que casamento era apenas entre homem e mulher. Ou como o nosso caro deputado Jean Wyllys, ao afirmar que o Brasil "é um dos países mais homofóbicos do mundo". Como se todos os gays assassinados no Brasil tivessem morrido simplesmente por serem gays! A propósito, nosso país é tão homofóbico que permite até casamento e parada gay né seu Jean Wyllys? Parece que a histeria se tornou a regra para muitas pessoas, que veem discriminação, racismo e preconceito em todo canto, tornando-os incapazes de dialogar ou julgar a realidade de forma mais isenta. Simplesmente se fecham em suas redomas ideológicas e ignoram as evidências. E o pior é que eles ainda fazem a cabeça de muita gente.

De qualquer forma, a estratégia aqui me parece clara: exagerar o potencial destrutivo de um mero preconceito - que pode ou não se traduzir em uma ação real - para então declarar que "algo deve ser feito contra essa barbárie", quase sempre envolvendo restrições de liberdade e mais poder para políticos populistas e demagogos que buscam apoio e influência ao posarem de salvadores das "minorias oprimidas".


Ainda não está convencido? Bom, também há preconceito contra ateus e cristãos, - principalmente em países que não desfrutam da tolerância religiosa do ocidente - que são não apenas discriminados, mas até perseguidos em diversos lugares do mundo. Por que nunca se fala de uma suposta "cristofobia" ou "ateofobia"? Ou a nova moda no ocidente: "islamofobia". Claro que nem todos os muçulmanos são terroristas e há muita gente de bem entre eles. Mas, uma vez considerado o problema do terrorismo islâmico, não se pode dizer que este preconceito seja de todo infundado. Preste atenção à mídia e veja se não retratam a suposta onda de "islamofobia" como sendo um bando de gente que odeia os muçulmanos e que acham que todos são terroristas, e não como pessoas que simplesmente temem o aumento do terrorismo com a expansão recente do islamismo na Europa. Claro, também existe a hipótese da suposta "onda de islamofobia" ser apenas um recurso para desmoralizar adversários políticos.

Enfim, o recado está dado. Esperemos os próximos capítulos, pois apenas o tempo dirá quem está com a razão. De qualquer forma, o padrão me parece claro: sempre que vierem com um novo "qualquercoisofobia", fique de olho se logo em seguida não haverá uma onda vitimista de gente alegando ter sido vítima desta nova "fobia". Mas não se preocupe, pois não faltarão almas caridosas e benevolentes para defender as novas "minorias oprimidas" dos "fanáticos e intolerantes de plantão".

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