Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

terça-feira, 22 de março de 2016

BOLSONARO E DOM SEBASTIÃO.



Dom Sebastião foi um rei português que, após morrer em batalha entrou para o imaginário lusitano como aquele que voltaria para Portugal para guiar seu povo a novos tempos de glórias,  assim como foi no passado. Como descendente que somos deste povo, herdamos deles também esse sentimento da eterna espera de um herói salvador que nos guiará para o nosso tão prometido futuro grandioso.

Venho pensando nessa mitologia tão nossa nesses tempo nebulosos da nossa situação política. É verdade que em toda a nossa breve história como nação sempre nos colocamos na condição de ovelhas a procura de um pastor a nos guiar, sempre ficamos a espera desse herói mítico que nos salvaria das garras de um mal abstrato que nos prendia ao atraso e rodapé da História. 

Vários personagens históricos já cumpriram esse papel de salvador: D. Pedro II (no golpe da maioridade), Getúlio Vargas, Tancredo Neves, isso pra ficar só em alguns. O mais recente foi Lula. Quando foi eleito em 2002, era a esperança de um mundo novo por vir, era aquele quem iria moralizar a política brasileira e salvaria o povo de seu destino de privações.  Ele era o novo D. Sebastião. Mas como ocorreu, ou melhor, como se dá esse fenômeno tão nosso e que leva à população a sucessivas decepções? 

O traço mais comum é o culto a personalidade. Quando as pessoas buscam uma figura assim para seguir, passam a cultuá-la de forma passional e sem qualquer reflexão pautada pela racionalidade. Contradições sao ignoradas, pecados são perdoados, o que importa é que esse ser iluminado é a unica esperança de salvação. 

Numa sociedade madura, que por sinal pode incorrer nesse erro de buscar um herói salvador, ao sofrer uma decepção como muito brasileiros agora sofrem pelo que hoje se sabe de Lula, tende a ser mais cético e procura meios de evitar tal culto, um exemplo são os alemães,  que sempre evitam qualquer possibilidade de surgir em sua política um novo Hitler. 

Porém, aqui ocorre o contrário,  mesmo após inúmeras decepções, com toda a morte lenta deste governo o que se vê é um grupo considerável de pessoas até mesmo bastante esclarecidas transferindo seu culto mítico a um novo D. Sebastião.  Se antes o nosso herói messiânico,  salvador de todos os males era o Sr. Luís Inácio,  agora o cavaleiro andante, o herói mítico que nos livrara do mal vermelho é o Sr. Jair Messias (sugestivo) Bolsonaro.


E esse culto a sua figura começa a me assustar. Vejo pessoas justificando sua postura, vendendo uma imagem mais positiva dele, entretanto, ignorando seu passado, suas contradições e não levando em conta que por trás de sua atual versão liberal possa existir alguém que irá se inebriar com poder e o culto a si. Acho que os brasileiros ainda não aprenderam que não é um herói sebastiano quem nos levará ao nosso futuro glorioso e sim pela ação de indivíduos responsáveis e lúcidos. 

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"Se a prudência da reserva e decoro indica o silenciar em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de uma ordem maior pode justificar a atitude de dizer o que pensamos." - (Edmund Burke)