Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

terça-feira, 26 de julho de 2016

SUBMISSÃO – A DERROTA DOS CRUZADOS MODERNOS

Nos últimos meses, ocorreram uma sucessão de notícias muito parecidas e que vêm causando temor em alguns e incompreensão em analistas de toda ordem no mundo todo: ataques terroristas na Europa promovidos por muçulmanos. Nas últimas semanas, só para ficar nas mais atuais, foram pelo menos três sérios na Alemanha, sem contar os atentados na Bélgica e os acontecidos na França (Charlie Hebdo, Bataclan e Nice). Conservadores mundo afora apontam esses atos como consequência da onda de refugiados que força a entrada no continente, outros mais progressistas tentam vender a ideia de que são radicais, lobos solitários que distorcem o Islã e sem qualquer relação com os moderados. A verdade é que todos estão sem entender o que anda ocorrendo no berço do Ocidente. Todos, menos um, o escritor Michel Houellebecq. Autor do livro Submissão, obra que trata do tema de maneira sui generis, ele conseguiu traçar um painel – cada vez mais real – do que aguarda a França e de quebra o mundo ocidental.

Com um romance distópico, seguindo a escola de Orwell e Huxley, Houellebecq descreve um França em 2022 elegendo o primeiro presidente muçulmano da Europa. Após uma aliança entre o partido islâmico e os partidos socialista (Hollande) e de centro (Sarkosy), a aliança sai vitoriosa em cima do partido de Marine LePen. Carismático e moderado, num primeiro momento, o presidente não interfere na política econômica ou em outros assuntos do país, mas interfere diretamente na educação. Fazendo mudanças sutis, mas relevantes, aos poucos as universidades francesas – representada na obra pela Sorbonne – começam a ditar como será a vida dos franceses a partir desse ponto: mulheres com véus pelos corredores e depois pelas ruas, aumento de postos de trabalho favorecido pela saída das mulheres dessas frentes e ficando em casa e até mesmo a poligamia e pedofilia (o diretor da Universidade casa-se com uma jovem de 15 anos) passam a ser aceitos.

Sendo narrado em primeira pessoa, por François, professor de Literatura na instituição, ele é um homem cético, irônico e descrente com a vida, alguém que vive numa espécie de limbo, a parte da vida social. Através do olhar da personagem, o texto faz uma análise apurada da política francesa, colocando de maneira irônica os caminhos tomados pelos socialdemocratas e apontando o mal que o politicamente correto causa. O tom sarcástico do narrador-personagem serve para expor as escaramuças políticas em que a esquerda e centro-direita francesas colocam o povo e como isso facilita a entrada dos islâmicos na cena política francesa.
Um fato interessante da trama é justamente o tom analítico do protagonista e narrador. Como ele está fora do jogo político e é apenas um cidadão comum que tem sua vida alterada radicalmente por conta das mudanças, ele passa a tentar entender o que aconteceu fazendo com que a narrativa tome um tom memorialista. Voltando cinco anos no tempo (ao ano de 2017) ele remonta os acontecimentos que levaram a essa situação. Por ser alguém que é levado pela maré, François acaba se rendendo ao status quo, converte-se ao islamismo por conveniência e retoma suas atividades como professor acadêmico. Sua apatia e adaptação a essa realidade é uma forma de ilustrar o próprio povo francês com sua indiferença e aceitação com tudo que está acontecendo.

O livro é visionário. Ele traça um panorama que se fosse lançado há três ou quatros anos soaria fantasioso e até ridículo, porém, com o crescimento das comunidades muçulmanas formadas por nascidos em países europeus e que, por conta do volume populacional cada vez maior, começam a impor a sharia nesses locais. Com a chegada de refugiados, aumentando consideravelmente o número de islâmicos e agora com o fortalecimento político deles com a eleição de um muçulmano moderado para a prefeitura de Londres, fica evidente o quanto esse livro é revelador e até profético, mais uma vez tendo uma distopia que, servindo de alerta, acaba sendo usada como um manual. Até mesmo o fato de a esquerda mundial abraçar o mal que pode acabar com Ocidente é mostrado no texto. Vale lembra que, assim como no texto o partido socialista francês apoia o partido muçulmano, o prefeito de Londres foi eleito pelo Partido Trabalhista da Inglaterra, partido esse com o mesmo direcionamento do partido de Hollande ou dos de esquerda no Brasil.


A realidade que se descortina no horizonte e tenebrosa e precisa de uma solução iminente. O mundo como o conhecemos, os valores que por séculos foram defendidos e praticados e que levaram o mundo livre ser o que se tornou, um ambiente de liberdades individuais e progresso, pode deixar de existir e é com a leitura cada vez maior de obras como essa, que apontam de forma direta e sem melindres os problemas e seus causadores da destruição da Europa e por tabela de todo o Ocidente, que vai nos levar a enfrentar um mal assombroso e cruel. Fiquem com Submissão de Michel Houellebecq e até a próxima.

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