Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Muito futebol e pouco neurônio

Segue abaixo uma parte da lamentável entrevista do jogador do Santos Neymar, concedida ao jornal Estadão. É uma mostra do quanto o jovem está mal assessorado e orientado. Além de um completo show de ignorância que explica o envolvimento do atleta no lastimável episódio onde ele e mais outros jogadores decidiram não participar de uma visita a um lar para crianças e defientes de orientação espirita.

Desde pequeno, Neymar é freqüentador da Igreja Batista Peniel, de São Vicente. “O primeiro salarinho dele (Neymar) foi R$ 450. Fizemos esse primeiro contratinho dele no Santos e minha mulher pegava os R$ 45 e dava para igreja todo mês. OK, ainda sobravam uns R$ 400 para pagar as contas. Daí ele passou a ganhar R$ 800. Tá bom, doa R$ 80… Só que Deus começa a te provar, né? Pegamos R$ 400 mil. Caramba, meu, como vamos ‘dizimar’ R$ 40 mil? É um carro! Cara, mas daí você pensa que Deus foi fiel. Pum, dá R$ 40 mil! Mas daí vieram ‘catapatapum’ reais. Meu Deus, não quero nem saber, ‘dizima’ logo isso! (risos). É… Deus te prova no pouco e no muito”, conta o pai do atleta, que também é seu empresário.

Dói abrir mão de R$ 40 mil?

Para Deus, nada dói. E acho legal. A gente conhece bem o pastor da Peniel. Faz dez anos que estou lá e agora estão ampliando a igreja. Acho que se a gente acreditar em Deus, as coisas vêm naturalmente. Deus me deu tudo: dom, sucesso…

Falando nisso, qual é a parte chata de fazer sucesso?

Ah, não tem parte chata. Eu acho que é sempre legal.

Já foi vítima de racismo?

Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?

O que gostaria de poder comprar que ainda não tem?

Queria um carrão.

Mas você acabou de comprar um Volvo XC-60, por R$ 140 mil, Não é um carrão?

Ah, é, mas queria uma Ferrari. Nunca andei.

Uma Ferrari ou um Porsche? Não sei. Qual é melhor?

Não sei, também. Ah, então eu queria um Porsche amarelo e uma Ferrari vermelha na garagem.

Qual é seu tipo de mulher? Linda. Prefere as loiras, as morenas, japonesas…?

Tem que ser linda. Sendo linda, tá tudo certo. E só não pode ser interesseira.

Para onde gostaria de ir?

Hmmm… para a Disney. Gosto de parque de diversões, brinquedos radicais. Tenho medo, mas eu vou. Ah, e Cancún também. Não surfo, mas pego um “jacarezinho”.

Já tirou seu título de eleitor?

Não tirei. Nem queria, mas vou ter que tirar.

Sabe quais vão ser os candidatos à Presidência?

Não sei, não

Gosta do Lula?

Não tô prestando muito atenção nisso. Mas agora vou ter que passar a prestar.

E até onde quer chegar como jogador de futebol?

Quero ser o melhor do mundo.

O mesmo garoto que doa 40 mil à sua igreja tem como sonho ter em sua garagem uma Ferrari e um Porche. Uma coerência só, é o famoso desapego ao material pregado pelos sacerdotes...

Não acha natural sofrer algum tipo de racismo por não se considerar "preto", alias eu vejo no rapaz alguns traços germânicos e até orientais. Africanos? nenhum.

E se dependesse dele nem tiraria seu título de eleitor, já que sequer sabe quem são os candidatos que concorrem às eleições deste ano. Não é só ele que tem essa falta de vontade em ter um titulo. Eu também tenho, mas por exatamente saber quem são os candidatos.

É de fato uma criança, rica, talentosa mas extremamente imbecilizada, pela vida pobre que teve, mas principalmente por sua religião pelo desinteresse aparente de seu pai e empresário (tão imbecilizado quanto) em aproveitar a chance que o garoto recebeu e lhe convencer a se preparar melhor.

São situações como essas que me fazem desistir da ideia do voto cencitário. Eu acho que deveriam, no mínimo, fazer uma prova de conhecimentos gerais para quem fosse tirar titulo de eleitor, porque mais uma vez é comprovado que dinheiro e cultura nem sempre caminham juntos.

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