Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Rock In Rio. O que aconteceu no último dia e você não soube pela Globo


Texto de Gabriela Paes de Carvalho Rocha

Estive no domingo com meu marido e uma amiga no Rock in Rio. Chegamos por volta das 20 horas. Deixamos nosso carro no Barra Shopping e de lá pegamos o ônibus para o Rock in Rio, porque nos foi garantido pelos empregados das empresas de ônibus que estavam lá, que a linha circular circularia a noite toda, e no terminal de ônibus da Cidade do Rock, quando quiséssemos ir embora, poderíamos pegar um ônibus que nos deixasse no Barra Shopping. No final, descobrimos que não era bem isso. Aí começaram as informações incorretas e irresponsáveis.

Chegamos ao evento com tranqüilidade. Fomos direto para a Rock Street e lá ficamos por algum tempo, indo também para a tenda eletrônica. Lá pelas 22 horas, fomos comer no Bob's e fomos ao banheiro ao lado da roda gigante. Na saída, indo na direção do palco mundo, comecei a ficar com os olhos ardendo e tonta, foi quando vimos muita gente correndo, crianças com pais e pessoas com a camisa cobrindo o rosto, pedindo para que voltássemos, por causa do spray de pimenta. Não havia uma pessoa da organização do evento para explicar o ocorrido e acalmar as pessoas, principalmente aquelas que trouxeram seus filhos para o evento.
Pelo que li, essa medida foi tomada em frente à Cidade do Rock, devido a uma tentativa de invasão. Não importa o motivo. O que importa é que em segundos, o espaço em frente à roda gigante ficou vazio, a fila não existia mais, o brinquedo foi esvaziado e tinha uma quantidade enorme de crianças com os pais no local. A segurança foi muito irresponsável, exagerou completamente e isso não pode em hipótese alguma ser feito em eventos de multidão. Mas ainda quando a multidão paga cada um 168 reais para estar naquele evento.
Após o susto da pimenta, fomos assistir aos shows. Como sabido, após o término do System of a Down, uma tempestade desabou no local e decidimos ir embora. A saída não estava tão cheia. Quando caminhamos pela saída normal, grande, do portão 13, começamos a ver várias pessoas voltando dizendo que não era para ir para frente pois estariam fazendo um arrastão mais a frente, junto ao acesso do terminal de ônibus do Rock in Rio.
Como já estávamos traumatizados com o gás de pimenta, não arriscamos e seguindo instruções dos profissionais uniformizados da Prosegur, empresa de segurança do evento, fomos para uma saída bem pequena, com uma grade com abertura mínima, para "escapar do arrastão". O primeiro erro foi não terem aberto mais aquela passagem, o que causou o desabamento da plataforma em pleno esgoto a céu aberto. Estávamos nós três no meio de uma multidão de aproximadamente 300 pessoas tentando passar pela grade mínima. Ficou claro que a multidão, com medo do arrastão, se deslocou toda para essa mesma saída. De repente ouvimos um estrondo e daí se iniciou uma correria violenta em direção à saída com a grade mínima, certamente porque um sem número de pessoas caiu e se acidentou e os da frente estavam tentando se salvar correndo para frente. Multidões são assim, querem só sobreviver, sabemos disso. O que eu critico é o papel da organização de um evento milionário nesse momento.
Eu e meu marido fomos expelidos com muita violência pelo meio da passagem mínima e minha amiga, que estava mais perto da grade foi praticamente pisoteada pela multidão. Quando eu e meu marido conseguimos sair da confusão procuramos ela desesperados e vimos que ela estava caída no chão, havia sido violentamente derrubada numa poça, ao lado da grade que a esta altura foi empurrada a força e aberta.

Ficamos por alguns momentos em pânico, perguntamos se ela estava ferida e nossa ação foi ir o mais rápido possível para o terminal de ônibus do Rock in Rio. Graças a Deus ela ficou só dolorida, mas poderia ter sido muito pior; poderíamos, por questão de segundos, ter caído no esgoto que estava abaixo de uma plataforma que na verdade era um conjunto de tapumes que claramente não tinham como suportar aquela quantidade de pessoas numa saída de emergência, como a que foi essa. Pasme: No caminho para o terminal de ônibus, havia dois carros de polícia, com dois policiais cada, todos dentro do carro, certamente porque não queria se molhar nem ficar gripados. Afinal, ajudar as pessoas e cuidar da ordem pública não deve fazer parte da competência deles.

Ao chegar ao terminal de ônibus do Rock in Rio, nos foi informado que haveria ônibus para o Barra Shopping o que, claro, para completar a "diversão da noite", não aconteceu. Os ônibus pararam somente no Via Parque (mesmo assim, do lado oposto da Av. Ayrton Senna) e no terminal Alvorada. Ao chegarmos lá, procuramos informações sobre transporte para o Barra Shopping, e após mais 20 minutos com informações desencontradas, desistimos e andamos até a entrada do terminal onde pegamos o 1º táxi que avistamos. Finalmente aí, depois de uma hora e meia de pesadelo, chegamos ao nosso carro. No nosso ônibus de volta do Rock in Rio, tinha um casal que havia caído na plataforma, que estavam todos com escoriações e sujos de esgoto, que não foram ajudados por ninguém. Como muitos certamente fizeram, levantaram e foram embora, porque obviamente ali não queriam ficar mais.
Fiquei muito triste com tudo isso. Fui ao Rock in Rio sábado e estava muito feliz e por isso driblei o cansaço para ir no domingo. Porém, acredito que só irei daqui a dois anos se ficar comprovado que a organização do evento se comprometerá a fazer jus ao valor pago pelo ingresso.

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