Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Um debate sobre as incoerências e idiotices de roqueiros no Brasil.


- "Quanto mais eu estudo sobre política menos contato eu quero com rockeiros, punks, skatistas, hardcores, carecas e headbangers... Todos tem um dom natural à idiotia util".

Esse mini-desabafo postado no facebook, gerou alguns debates interessantes em paralelo sobre esse tópico e outros assuntos que foram surgindo entre amigos e colaboradores já tradicionais deste blog. Onde destaco alguns dos principais pensamentos  - lembrando que todos são fãs e ouvintes de rock de longa data, portanto tem lenha pra queimar:

Thiago Araújo: Tem muito clichê nesse meio. Alguns dizem que a postura de contestar, de enfrentar problemas que existem nas sociedades são necessariamente ideais de esquerda. Essa coisa de chocar os pais foi muito longe e trouxe consequências catastróficas.

Hoje existe quem ache que nós, que gostamos do Rock/Metal sem ter ideias socialistas/comunistas somos a incoerência. Esses são os mesmos que concluíram que como o Metal teve suas bases nas regiões onde viviam os trabalhadores industriais da Inglaterra, que necessariamente o movimento seria de esquerda. Ora, pois, para ser trabalhador precisa ser de esquerda? E no caso de cobrar condições decentes de trabalho, isso se torna uma luta automática contra o capitalismo?

Outro clichê já citado é a luta anticapitalismo, para substituir por regimes que historicamente trouxeram miséria e genocídios. Vide todos os países do bloco socialista e os arremedos de países que ainda hoje insistem nisso.

Mais um clichê é falar mal de religião. Aí o que o sujeito conhece sobre o tema? No máximo a inquisição. Nada mais que isso. Se houvesse uma diversidade, se falassem tão mal do Islã quanto do Cristianismo eu até entenderia. Mas não: tem que embarcar na onda, tem que repetir o que todo mundo diz.
É natural que quem esteja acostumado a ter o monopólio das opiniões e da militância se surpreenda e não aceite o surgimento de opiniões divergentes...

Luciano Geronimo: Pior: no que se refere a conhecer a inquisição se o cara é incapaz de apontar a principal diferença entre a inquisição medieval e a inquisição da era das navegações ele ACHA que sabe, mas é um completo asno. E o que eu mais vejo nos mimimis de inquisição é gente dizendo que a inquisição espanhola matou milhões na idade média, inclusive Giordano Bruno. Sendo a Espanha NÃO EXISTIA na idade média.

- To aqui lembrando do papel de otário que fiz defendendo a campanha de financiamento do Carlos Lopes pro disco do Dorsal em 2012.

Mas eu já devia ter desconfiado que daria merda quando ele disse que "financiamento coletivo" era "fazer o socialismo".

Usou os otários dos fãs pra custear o disco, deu certo. E depois de lançado fez uma grana o lançando de novo por um selo. Mesmo prometendo que ninguém mais além dos financiadores teriam o disco. Que aliás é uma merda.

Eu até esqueço o papel de otário que fiz e gargalho de rir com o item 4 desse desabafo:

http://whiplash.net/materias/news_838/155770-dorsalatlantica.html

Thiago Araújo Mais um socialista do Leblon... Este sujeito pode ser resumido em duas palavras: ressentimento e inveja. Não que a banda dele não tenha importância para o cenário brasileiro. Tem. Mas dá sempre a entender que os que alcançaram sucesso comercial o conseguiram por terem mais sorte, mais contatos e mais dinheiro. Ao mesmo tempo que dá a entender que queria o mesmo, nas entrelinhas condena quem conseguiu. O mais grotesco dessa história foi ele culpar os fãs por não poder lançar um disco, já que eles não o ajudavam a financiar. Aí essa história do crowdfunding acabou vingando de tanto que ele choramingou.

Kleryston Negreiros Cara, há anos tenho desprezo pelo Carlos e o Dorsal com esse mimimi. Quando o mercado se abriu pras bandas brasileiras, as que adotaram o inglês ou, no caso do Korsus, foi mais competente, teve espaço e deslanchou na carreira, que é do meio sabe quais as bem sucedidas. O Dorsal, apesar do pioneirismo, ficaram parados no tempo, o primeiro álbum em inglês deles saiu quando já havia bandas brasileiras consolidadas lá foram. Foram incompetentes e o preço a pagar por isso é a derrota. Simples assim.

Luciano Vândalo: Eu não ajudei com nenhum centavo [Luciano Vândalo talvez seja o maior fã de Dorsal Atlântica existente na terra]

Rodrigo Almeida: Eu "cantei" essa pedra na época... Cara, na época do financiamento mesmo, já tinha alguns lugares para a venda do cd e claro que não eram pessoas que financiaram. É fácil ser socialista morando no Leblon.
Luis Felipe Mattos Também me senti um idiota. Financiei um disco merda, esperando ser um disco de thrash, quando na verdade era um disco de esquerda, com apoio a Dilma!

Lembrando que recentemente a Plebe Rude repudiou o uso de suas musicas nas manifestações contra Dilma. Só esqueceram de dizer de onde saiu o financiamento para seu DVD, uma dica: com patrocínio da Petrobrás e do Governo Federal. Basta olhar o encarte. Mas nesse ponto nem há tanta incoerência assim, besta são os manifestantes que usaram as musicas da banda esquecendo-se que os Seabra sempre foram de esquerda.

- Uma das coisas mais engraçadas de roqueiros é que eles dizem adotar um estilo único contra os padrões, mas se você for num show você não consegue diferenciar as pessoas, pois TODOS ESTÃO IGUAIS.

Se você ousa ir a um evento fora do padrão "anti-padrão" você será olhado com desdém, como se valesse menos que nada. Como se sua presença afrontasse todos os ritos e dogmas daquele evento. Não importa se você está vindo direto do trabalho e não teve tempo de trocar de roupas. Você não vale nada!
Carlos Henrique Roqueiro é uma raça chata pra caralho... Molecada pré-25 anos, então, piorou. Falo isso no trabalho a galera fica sem entender, porque eu ouço o som... Mas uma coisa é gostar da música, outra é ser babaca como talvez uns 80% desse povo. (e sobre o seu outro post envolvendo roqueiro x política: está certíssimo, é tudo devoto de Tom Morello)

Não aposentei minhas camisas pretas, detesto roupa colorida - exceto camisa de futebol - porém trato minhas camisas como peças de uma coleção que acumulei com o passar dos anos, mas uso bem menos.

Não vou nem mencionar o recente fiasco do underground brasileiro com festival Zombie Ritual em SC, onde teve gente no facebook dizendo que as bandas deveriam ter tocado de graça. Na cabeça dessa gente musico tem que tocar de graça. Será que esses trabalham de graça?

Pertencer a "coletivos" de qualquer espécie acabam matando a individualidade e a liberdade de pensar. Nisso roqueiros, punks, hardcores, headbangers e carecas são todos iguais.

A verdade é que como lembrou o amigo Roger Pousada: "O rock é universal". E ele pode ser qualquer coisa. De esquerda, de direita, anarquista, ateu, cristão, satânico. Eu prefiro selecionar o que ouço e não dou moral a artista que defende liberdade seletiva.

Outra verdade é que se posicionar tem suas consequências. Uma delas é a obrigação de ser coerente com suas palavras e atos. Pra isso ter um mínimo de conhecimento pra fundamentar suas ideias, ou ideais é fundamental.

Mais: "Che Guevara não gostava de rock" - Relatos históricos sobre a proibição e Censura ao rock: PT 2
http://shogunidades.blogspot.com.br/2011/08/che-guevara-nao-gostava-de-rock-relatos.html

Mais sobre: Censurado! - Relatos históricos sobre a proibição e Censura do rock: Parte 1
 http://shogunidades.blogspot.com.br/2011/08/rock-proibidao-relatos-historicos-sobre.html

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