Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O novo capitulo da guerra Gays x Gospel: Quando pedir respeito desrespeitando vira regra

Neste blog sempre defendi o movimento 'GLBTxyz' (mesmo aloprando sua sigla) contra os desrespeitos cometidos por determinados grupos cristãos. E ter que iniciar esse texto lembrando isso provará o ponto a que quero chegar.

Não é de hoje, que eu trato desse assunto. Há tempos eu venho falando que vivemos uma era, no mínimo, curiosa no Brasil. Os grupos que antes eram perseguidos estão ou ficaram amigos de quem está no poder. Estando no poder o que eles fazem? Invertem a perseguição e criam uma série de dispositivos para se beneficiarem e impor sua "posição".

Não basta se proteger e garantir seu direito de existir, sobreviver ou pensar. Tem que pisar em cima do antigo "opressor".

Ontem, domingo (07/05), ocorreu a já tradicional 'Parada Gay' de São Paulo. Uma data que já está incorporada ao calendário oficial de eventos da cidade, que atrai turistas e gera dinheiro para a cidade.

Ainda na sexta-feira corriam boatos confirmados de que ocorreria uma manifestação religiosa em paralelo à parada gay, em APOIO aos GLBT. Sim, um movimento cristão chamado "Jesus cura a Homofobia" pretendia hastear uma bandeira branca. (link da página)

Quando eu vi o manifesto do tal grupo "Jesus cura homofobia" se declarando contra a homofobia de religiosos, achei legal. Seria um primeiro passo para o fim de uma guerra imbecil que só favorece a um projeto de poder nefasto que está levando ao esfacelamento social do nosso povo.

Mas ao longo do dia surgiu uma imagem da parada gay de uma performance possivelmente de um artista ou ator, eu realmente não busquei muitos detalhes, pois a imagem em si já era simbólica o bastante. E eu aqui nem quero criticar a performance em si, pois sou ouvinte de Heavy metal. E creio eu, já fizemos coisas piores e mais ofensivas.

Uma performance de um gay (ou travesti, como queiram) crucificado e usando a coroa de espinhos explicitamente em alusão à Cristo. Eu não pude deixar de rir de todo o contexto. E quando eu digo rir, não é que eu queira ver o circo pegar fogo. Não é isso. Mas é um riso de nervoso e desgosto em ver a comprovação de tudo que eu venho dizendo sobre o racha de nossa sociedade e enxergar que essa cisão é irreversível.

Vejamos: Evangélicos, especificamente, estendem uma bandeira branca nas relações. E sem o mínimo bom senso político, (eu explico isso mais adiante). Os organizadores mantém uma performance, que para muitos cristãos é sim ofensiva.



É preciso lembrar que a 'parada gay' não é apenas um evento oficial da cidade de São Paulo e de outras cidades que a realizam, é também um uma manifestação politica em prol dos direitos individuais do GLBT's. E como tal, isso deveria ser observado pelo seus organizadores. E dessa vez a parada gay pagou uma manifestação de religiosos a seu favor com algo desrespeitoso a fé deles.

Só queria lembrar que muitos, se não a maioria dos cristãos não "foram Charlie".

Minhas palavras valem para os dois lados. Há intolerância dos dois lados mas aqui no Brasil nunca houve uma agressão física de religiosos a um gay (a menos que queiram pegar casos de traficantes evangélicos, percebam a incoerência disso, que possam ter agredido outras pessoas por fundamentalismo e ignorância - como se bandido precisasse de motivos para matar ou torturar alguém). Ao contrário do que ocorre em países islâmicos. Onde os dois grupos são assassinados brutal e diariamente.

E me preocupa muito este tipo de relativização e provocação que esta acontecendo no Brasil, não porque eu tema o "fundamentalismo religioso" dos cristãos brasileiros. Mas porque as pessoas estão caíndo nesse discurso, ou mordendo a isca e agindo de acordo com essa ideia que dá força ao argumento pré moldado em cimento de quinta, de pseudo-intelectuais como Gregório Duvivier e o Fábio Porchat, que recentemente em suas respectivas colunas na Folha de São Paulo apontaram a existência de um fundamentalismo no Brasil. O que provo não ser verdade, não existe. Posso resumir tudo em dois simples exemplos: "Artistas performistas" enfiam santas de madeira ou cruzes na vagina em praça pública, humoristas gravam videos na internet fazendo graça de todas as religiões principalmente a que tem o maior numero de adeptos no Brasil e ninguém é agredido por isso - no máximo é xingado ou sofre alguma tentativa de processo, onde até eu sei nenhum deles perdeu a causa.

Os organizadores da parada gay podem sim ter provocado deliberadamente uma reação mais radical daqueles que são mais radicais. Que considero improvável, visto que os cristãos tem sido provocados há anos por vários seguimentos artísticos, políticos e ideológicos e nunca reagiram violentamente.

Mas eu sei que lamentavelmente só um lado irá se ofender com o que escrevo aqui, pois atacar, atacar e atacar virou a justificativa geral de todos os seguimentos que se sentem agredidos, desrespeitados. É curioso como virou rotina pedir respeito desrespeitando os outros.

E enquanto houver rixas internas na sociedade, esses grupos ficarão ocupados demais tentando se destruir enquanto os governantes de sempre se manterão no poder, se alimentando ainda mais da máquina administrativa em proveito próprio sem qualquer resistência. pois até mesmo a oposição está com algum rabo preso ou foi totalmente enfraquecida.

Quanto às reclamações de que a parada gay é feita com dinheiro público. Bom, o carnaval também é, as marchas para Jesus também são. No que se refere ao Rio os shows realizados no sambódromo ou no Maracanã também são (transito, segurança e socorro médico) O mesmo deve valer pra São Paulo. Então não me venham com essa.

Eu? Eu apenas me recolho à minha insignificância ateísta e hetera de "quem não pode opinar por não pertencer a nenhum dos lados" e ficarei observando os "corpos caindo ao chão". Só não digam que eu não avisei.

"Por mais agressiva que seja qualquer opinião, eu ainda prefiro viver num mundo onde as pessoas tenham liberdade pra fazer algo assim e não serem mortas e muito menos censuradas por isso". (palavras minhas) as quais eu completo com: Desde que tenham estofo para arcar com as consequências disso.

Pendurem um cristo travesti, eu não me importo, mas não reclamem quando um crente ou qualquer outro religioso não-cristão ofendido (e eles existem, acredite) lhes disser que irão para o inferno.


Mais sobre este assunto:
- Dividir e Conquistar o Brasil II: O movimento Gay x o poder da bancada Evangélica http://shogunidades.blogspot.com.br/2011/05/dividir-e-conquistar-o-brasil-ii-o.html

- Dividir e conquistar, o Brasil: A sociedade rachada
http://shogunidades.blogspot.com.br/2011/05/dividir-e-conquistar-o-brasil.htm


Dados: Segundo a ONU, em 2014 morreram no mundo 980 homossexuais apenas por serem homossexuais. Foram excluídos da contagem os crimes passionais, execuções por dívidas de tráfico e latrocínios. Durante o mesmo período morreram no mundo 162.000 cristãos apenas por serem cristãos. Apenas na Nigéria, nos dois primeiros meses de 2015, foram assassinados 50.000 cristãos.

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