Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O "Direito de Não Ser Ofendido" é Uma Receita para o Totalitarismo



A Pepsi está de parabéns pelo seu novo comercial. Mostra que esta, pelo menos, não se vendeu ao discurso politicamente correto.

O mais divertido - ou mais triste - é ver o chororô nos comentários, de gente reclamando que a Pepsi estaria "fazendo o desfavor de ridicularizar vários movimentos que lutam por seus direitos". Ainda assim, a maioria esmagadora são comentários positivos, mostrando como os politicamente corretos nada mais são que uma minoria histérica que se acha no direito de impor sua visão e seus valores sobre toda uma sociedade discordante.

O problema com esse discurso que defende o "direito" de não ser ofendido é que uma ofensa é algo totalmente subjetivo e que depende muito mais dos valores da pessoa do que da ação em si. Por exemplo, tenho uma amiga que, quando fica irritada comigo, já me manda até tomar no cu se for o caso. Não ligo a mínima. Por outro lado, conheço uma pessoa que se sentiu extremamente ofendida só porque eu disse uma vez "vá se ferrar" do tanto que ela me irritou. 

De minha parte, francamente odiaria ter o direito de não ser ofendido. Em primeiro lugar porque praticamente nada me ofende. Em segundo lugar porque isso é garantia de que irão mentir pra mim toda vez que tiverem medo de me desagradar. Na URSS, o único que efetivamente tinha esse direito era Stalin, porque qualquer um que o ofendesse correria o risco de ter sua cabeça literalmente cortada. 

Praticamente qualquer coisa pode ofender qualquer pessoa. Um religioso pode se sentir ofendido ao ver 2 gays se beijando. Um muçulmano pode se ofender se você o convidar para um churrasco e servir carne de porco. O direito de não ser ofendido é completamente incompatível com a liberdade. Levado ao pé da letra, uma pessoa que se sentisse ofendida com o beijo gay na novela poderia demandar a censura da mesma. O mesmo vale para livros, filmes ou qualquer tipo de arte. Demandar o direito de não ser ofendido é, em última instância, querer obrigar todos os outros a usarem uma linguagem excessivamente diplomática, artificial até, apenas para não incomodar sensibilidades exageradas. Significaria criar uma legislação baseada em meros caprichos, e não em critérios objetivos. É criar uma casta de intocáveis e incriticáveis, que poderiam mandar qualquer um calar a boca simplesmente ao se fazer de vítimas reclamando que se sentiram ofendidas. 

Enfim, é uma pauta altamente autoritária que só serve para que pessoas infantis, hipersensíveis, narcisistas e egocêntricas possam se sentir bem consigo mesmas. A defesa do direito de ofender nada tem a ver com ser "bonito" insultar, desrespeitar ou fazer piadas machistas e racistas, mas sim porque a negação deste direito se torna a negação da própria liberdade. Em nome das "minorias oprimidas", o politicamente correto silenciará a todos.

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"Se a prudência da reserva e decoro indica o silenciar em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de uma ordem maior pode justificar a atitude de dizer o que pensamos." - (Edmund Burke)