Muita polêmica se criou nas redes sociais após o episódio lamentável do cuspe ao parlamentar durante a votação do Impeachment neste último domingo. Muitos defendendo Bolsonaro, outros defendendo Jean Wyllys e outros dizendo que ambos não passam das duas faces da mesma moeda. Entretanto, o que isso nos diz sobre seus defensores?
Para entendermos essa questão, uma pergunta mais essencial nos faz necessária: o que diferencia liberais e conservadores de esquerdistas na escolha dos líderes políticos que defendem e na importância que atribuem ao governo?
Liberais e conservadores entendem que estadistas são necessários: isto é, políticos que, de fato, tenham visão de longo prazo e tomem decisões importantes e acertadas visando o futuro da nação. Mas quem, de fato, é o responsável pelo fracasso ou sucesso da nação é o seu povo. Sendo assim, o papel dos estadistas, em tempos de paz, é bastante restrito e específico. Limita-se a limpar o lixo institucional que afoga a população e lhe impede de alcançar seus mais altos potenciais.
Esquerdistas e estatistas, por outro lado, enxergam o estado como fonte única de prosperidade e do bem-estar da nação. Cabe aos políticos, e não ao cidadão comum, zelar e promover a prosperidade, a paz e a moralidade. Não veem o governo como um mal necessário, mas como um bem feitor a quem lhe compete resolver todos os problemas da sociedade.
Desta diferença crucial surge, portanto, mecanismos mentais completamente distintos na escolha e na atitude tomada perante líderes políticos. Enquanto liberais e conservadores buscam políticos que, no mínimo, não atrapalhem aqueles que querem trabalhar e produzir, a esquerda quer líderes messiânicos, que prometam resolver todos os seus problemas. Desta diferença surge a principal diferença na atitude perante os líderes que defendem: a atitude dos primeiros é de admiração, ao passo que a dos esquerdistas é de submissão. Ao negar a responsabilidade pelo próprio sucesso, estes entregam a responsabilidade por suas vidas aos políticos. Ao fazerem isso, abrem mão de sua liberdade, uma vez que liberdade e responsabilidade são indissociáveis. Toda tentativa de extirpar um indivíduo da responsabilidade individual necessariamente implica em cerceamento de liberdades, uma vez que as escolhas antes delegadas aos indivíduos são transferidas para alguma autoridade central, a quem lhes cabe apenas obedecer.
Uma vez que depositaram toda sua esperança nesses líderes, esta mentalidade subserviente acaba por turvar-lhes a razão, fazendo-os agir como crianças que vivem com pais abusivos mas que, no entanto, se negam a entregar-lhes para as autoridades. Ruim com eles, pior sem eles.
Deste modo, não é de admirar que seja tão comum entre estes últimos o culto à personalidade dos líderes que defendem. Seria-lhes demasiado doloroso admitir que aqueles líderes a quem entregaram toda as suas esperanças pouco ou nada podem fazer comparado ao que lhes foi prometido. Sendo assim, devem ser defendidos de tudo, inclusive da verdade. "Líderes" esquerdistas como Lula, Fidel ou Che Guevara devem ser defendidos, portanto, não pelo que fazem ou deixaram de fazer, mas simplesmente por serem quem são. Abandonar a figura de um salvador significaria abandonar tudo o que acreditam.
Ainda que liberais e conservadores não estejam imunes ao erro que fazem alguns colocarem a defesa de determinados políticos acima dos valores que defendem, tal atitude tende a ser bem menos frequente entre estes, e suas opiniões menos homogêneas. Há liberais e conservadores que admiram Bolsonaro, há aqueles que o defendem com ressalvas, há aqueles que são indiferentes e há aqueles que o desprezam. Quantas críticas ao Lula você já ouviu vindo de petistas ou de esquerdistas convictos?
Esta diferença crucial mostra o caráter essencialmente autoritário da esquerda, por mais que eles tentem escondê-la por detrás de uma retórica pomposa defendendo sentimentos humanitários.
Millor Fernandes:
Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.
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"Se a prudência da reserva e decoro indica o silenciar em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de uma ordem maior pode justificar a atitude de dizer o que pensamos." - (Edmund Burke)
Exatamente! Essa distinção é muito importante e muitos não a faz.
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