Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

terça-feira, 21 de maio de 2019

THANOS, O VILÃO DO BAIXO LEBLON



Thanos é o vilão do momento. A essa altura do sucesso do filme Vingadores e de todo o rebuliço nos últimos anos com os filmes da Marvel Studios, ele não só não precisa de apresentações, como (acho que posso dizer sem medo de errar por excesso) entrou para o hall dos maiores vilões do cinema. Está entre os maiores porque, de certa forma, ele é mais real do que pensamos, vejamos por quê.
O que o move é o seu desejo de equilibrar o universo. Thanos considera que as criaturas que vivem nos mundos habitados (estamos falando de uma narrativa criada para os quadrinhos, não esqueçamos) destroem seus recursos, povoam de forma desordenada levando até ao próprio extermínio, ele acredita que todo o universo vai deixar de existir se algo não for feito. E ele faz. Reúne as Joias do Infinito e com elas reequilibra as coisas dizimando metade de todos os seres do universo, pois acredita que, reduzindo as populações pela metade, a que sobrar ficará grata por ter mais terras e possibilidades de sobrevivência. Ele se vê como alguém inevitável e acredita que está fazendo o bem.
O problema é que ele desconsidera alguns fatores relevantes para pôr seu plano utópico em prática: a resistência desses povos para preservar os seus, o desejo de lutar para desfazer tudo e trazer de volta quem perderam e ainda, desconsidera as condições populacionais que permitiram a esses mundos evoluírem. Sua visão malthusiana faz com que ele não perceba que com metade das populações, perde-se também metade da força produtiva, metade da mão-de-obra e metade dos consumidores, isso gera escassez, carestia e uma vida muito pior do que antes e os sobreviventes lutarão para restaurar o que tinham porque, por pior que pudesse parecer, era o seu mundo.
Não satisfeito com a rebelião, por achar que foram ingratos, que a lembrança do mundo como era faz com que não aceitem o futuro maravilhoso e perfeito que os aguardam, Thanos toma a decisão drástica de destruir todos e então criar novos habitantes para esses mundos, criar os povos ideais, que não possuem quaisquer lembranças do mundo anterior e que serão gratos pelo porvir nessa realidade idílica, a materialização do Éden. No fundo, ele não é mal, ele só quer equilibrar a realidade e finalizado seu projeto – não importando quantos morrerão para que esse equilíbrio chegue – irá para o seu jardim, cuidar de sua vida, sua horta e viver em paz.
Olhando assim, parece coisa de quadrinhos, esse vilão que tem o plano perfeito, mas que destruirá tudo e todos, que precisa ser detido e todos torcemos para que os heróis vençam esse mal absoluto, todos queremos que no fim, seu projeto de poder falhe, ninguém em sã consciência apoiaria um ser assim. Ninguém fica ao lado do vilão. Não fica?
Fica. O desejo de Thanos, a reengenharia social, o alarmismo como justificativa à criação da sociedade perfeita amparando o Homem Ideal, o Homem do Futuro, não é um discurso inventado, muito pelo contrário, ele foi largamente (e ainda é) aplicado desde o início do Século XX, sempre promovido por líderes abnegados que lutavam por uma causa nobre e em nome desse futuro glorioso e utópico. Esse plano de Thanos já foi chamado de vários nomes: Revolução Bolchevique, Nazismo, Fascismo, Revolução Cultural, Revolução Cubana, mais recentemente, Bolivarianismo e Thanos já teve diversos nomes também: Lênin, Trotsky, Hitler, Mussolini, Mao, Fidel e mais recentemente, Maduro.
E o mais assustador disso tudo é que diferentemente do que esperaríamos que fosse o comportamento das pessoas diante de uma personagem assim, muitas apoiam os Thanos da vida real. Os mesmos que aplaudem o Capitão América quando este grita “Vingadores, avante” para derrotar o grande vilão, esse símbolo do mal no mundo (ou nos mundos), são os mesmos que apoiam os tiranos reais, são os mesmos que, a despeito de todas as mortes e genocídios promovidos por esses déspotas, ainda há aqueles que bradam com orgulho seus ideais e ainda sonham com o grande líder cor violeta que irá dizimar todos os que impedem que o futuro glorioso chegue. Os mesmos que aplaudem os Vingadores, lutam para colocar no poder um Thanos para chamar de seu e que provavelmente emergirá nas hortinhas orgânicas ou bares de cerveja artesanal da Vila Madalena ou do Baixo Leblon, com sua pele arroxeada e um coque samurai.

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