Millor Fernandes:


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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Tragédia do Bondinho: Associação de moradores de Santa Teresa critica o poder público em carta

Acidente com bonde superlotado era "tragédia anunciada", segundo documento.

O acidente com um bonde que matou cinco pessoas e feriu 57 na tarde de sábado (27), “não é uma fatalidade, mas uma tragédia anunciada”, afirma a Amast (Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa), em carta aberta divulgada no próprio site neste domingo (28). Com palavras de indignação, a diretoria da Amast defende que o desastre é resultado de negligência na manutenção dos bondes e ataca representantes do poder público.
"Mais do que o abandono de um bem tombado, que, quando convém, tem a imagem utilizada para ilustrar interesses politiqueiros de divulgação da cidade, estamos diante de uma situação criminosa, na medida em que pessoas morrem ou sofrem lesões corporais de natureza grave, que certamente poderiam ser evitadas se o governador e o secretário [de Transporte, Júlio Lopes] cumprissem a decisão judicial que, há mais de dois anos ordenou a recuperação integral do sistema de bondes, com a devolução dos 14 bondes tradicionais em perfeitas condições de operação".

De acordo com a associação, os problemas dos bondes como manutenção e superlotação foram denunciados diversas vezes ao poder público.

"O Crea [Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia], em relatório da Capa (Comissão de Prevenção de Acidentes) divulgado publicamente, recomendou que os bondes modificados não fossem colocados em circulação devido à falha grave na localização do sistema de freios. A recomendação foi solenemente ignorada pelo governo do Estado, Secretaria de Transportes e Central Logística (empresa que administra o sistema de bondes)".

Ainda segundo a associação, no dia do aniversário do bonde, na próxima quinta-feira (1º de setembro), a comemoração já seria substituída por protesto em forma de luto, para lembrar as mortes da professora Andréa de Jesus e, recentemente, do turista Francês Charles Damien.

A Amast conclui a carta culpando o governador Sérgio Cabral, o secretário Júlio Lopes e o Ministério Público.

"Pelas razões acima e por todos os outros motivos que até as pedras centenárias das ladeiras de Santa Teresa conhecem, reputamos como principais culpados as autoridades aqui mencionadas, com especial destaque para:

1. O governador Sérgio Cabral, que com sua habitual desfaçatez, suscitou à época do acidente que vitimou a professora Andréa de Jesus Rezende, uma possível municipalização dos bondes, com o único propósito de desviar o foco da imprensa quanto à raiz do problema, haja vista que nenhuma palavra voltou a ser dita sobre o assunto nos últimos dois anos.

2. O secretário Júlio Lopes, pela malversação da verba pública que deveria ter sido aplicada na recuperação dos 14 bondinhos tradicionais, e que foi aplicada na aventura tecnológica fracassada empreendida pela empresa T’TRANS, que resultou na criação de aberrações com aparência de bonde porém repletas de problemas de projeto que até hoje não foram superados.

3. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, pela omissão em requerer à Justiça a execução provisória das decisões que ordenaram a recuperação integral do sistema de bondes de Santa Teresa, mesmo após o esgotamento dos principais recursos em que o Estado saiu-se perdedor".

O governo do Estado e o Ministério Público não haviam se manifestado oficialmente sobre a carta da associação até a publicação desta reportagem.

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