Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Quando impera a impunidade só nos resta a barbárie.


O Brasil está divido. A guerra civil velada está a cada dia mais real. Síntese de uma tragédia mais que anunciada, meus caros...

Lamento muito que o bairro onde vivi até os 4 anos de idade, que frequentei em boa parte de minha juventude tenha chegado a este ponto.

Quando o estado é ausente; quando não há segurança; quando reina a impunidade; só nos resta a barbárie.

Não vou ser hipócrita de criticar os tais "justiceiros" pois não sei o que houve para provocar tal atitude. Mas o ato em sí é uma mostra de que estamos a um passo da barbárie geral onde nos tememos e nos atacamos uns aos outros para vivermos ou para nos protegermos. Enquanto isso, os governantes fingem que governam mas na verdade não governam para ninguém.

Já sobre os críticos eu preciso separa-los em dois pontos:

1 - O verdadeiro racista é aquele que me chama de racista, por eu não ter pena do bandido preso no poste, já que ele era negro e pobre. De uma vez por todas: Negro é negro, e merece todo o meu respeito; Pobre é pobre, e merece todo o meu respeito.

Se você acha que o fato ocorrido no Flamengo tem a ver com racismo, talvez seja você quem um problema de racismo. O pobre rouba pelo mesmo motivo que o politico rico rouba, que o elemento de classe média rouba: Má índole.

Pra resumir. Negro, favelado e pobre ao contrário do que pensa essa gente que se coloca num pedestal não são sinônimos de bandido e vagabundo.

2 - Agora você que sente pena do bandidinho eu te faço uma pergunta: Quem você pensa que é? Porque você se sente tão nobre e superior nesse teu pedestal por ser condescendente com apenas uma classe de 'seres humanos' - a dos bandidos? E nada diz sobre as vitimas, porque considera natural?

O que dizer então da falta de coerência desse povo?

Não se viu uma palavra de conforto dessa gente piedosa à soldado Alda.

Na mesma semana em que os tais "justiceiros" atuaram, um ciclista foi assaltado e esfaqueado no rosto. Não se viu igual comoção.

É no mínimo curioso, pra não dizer contraditório; que muitos dos que defendem ações como quebra quebra a entidades tais como bancos, lojas, restaurantes; que defendam o confronto com a policia em manifestações; até mesmo 'pulaços' de catraca ou ataques a ônibus e trens (estes confesso que apoio a cada vez que o trabalhador é sacaneado pela incompetência da Supervia) contra os abusos cometidos por empresas de transporte critiquem uma reação igualmente criminosa já que querem colocar nestes termos  (pulaço de catraca talvez seja apenas uma contravenção, um delito menor - que eu até apoio) venham criticar com tanta fúria e indignação o ato cometido contra o pivete no Flamengo. Ou alguém vê diferença nesses atos? Ao meu ver são uma reação natural de raiva de quem se sente frustrado com tanta incapacidade do estado em resolver aquilo que deveria ser sua principal obrigação.

Eu não critico, nem tão pouco posso manifestar apoio incondicional. Não sei o que eu faria se fosse comigo.

É o mesmíssimo caso do trabalhador que um dia enlouquece depois de longo tempo sendo sacaneado, dia após dia, pela companhia de trens na sua ida e volta do trabalho. O estado tapa os olhos, finge que multa e tudo continua igual. Resultado? Revoltas e vagões incendiados.

Agora que todo mundo resolveu virar sociólogo, psicólogo ou especialista em direitos humanos. Vou contar uma novidade para vocês que vivem teorizando sobre pobre sem jamais ter colocado os pés em uma comunidade carente. Com a experiência de quem viveu 17 anos num morro: Local em que a polícia só aparecia pra esculhambar trabalhador e pegar arrego de traficante. O que aconteceu com esse pivete é o castigo normal aplicado a quem comete roubo na favela. Cansei de ver isso. Já tive o desprazer de ter minha casa invadida, meu padrasto rendido no chão com uma arma apontada pra cabeça. Sabe o que nos fez sentir mais seguros? Saber que as pessoas que fizeram isso foram eliminadas pelos traficantes locais que não queriam policia rondando o morro atrás desses bandidos.

O avô de minha esposa, cego, quase foi furtado na frente de seu prédio no Catumbi. O motivo que levou o pivete a desistir de se aproveitar de sua cegueira e rouba-lo? A ameaça que um jornaleiro fez de denuncia-lo aos bandidos do morro da Coroa. Pelo visto o tráfico tem medidas de segurança bem mais "eficientes", ou seja: Até bandido tem medo de morrer.

Em locais onde o estado é ausente, para acabar com a impunidade, limpar a honra ou estabelecer um poder paralelo reina a lei de talião. Sempre foi assim.  E não se vê a grita pelos direitos humanos nestas periferias onde a coisa não se limita a um linchamento, costuma terminar com um cadáver. Suponho que o Aterro do Flamengo deva ser mais atrativo politicamente.

Agora se este tipo de reação esta começando a acontecer no "asfalto", em um bairro como o Flamengo, cartão postal do Rio, parabéns ao governo por conseguir nivelar por baixo a segurança do morador do morro e do asfalto.

Então sugiro fortemente que ao invés de teorizar sobre a vida do pobre. Sem que os senhores jamais tenham tido a experiencia, de subir num morro, viver numa favela ou do que é ouvir sua mãe contando do esforço da sua avó em dividir um ovo pra 9 filhos. De teorizar sobre os motivos que fizeram um grupo de pessoas cometer o ato que cometeram, seja lá qual foi os motivos deles. Sugiro de coração que comecem EXIGIR QUE SEUS IMPOSTOS, PAGOS SEMPRE EM DIA (espero eu) sejam investidos naquilo que é função primordial do estado. Garantir a segurança de todos. Assim evitaremos que mais pessoas se achem no direito de fazer o que o estado tem falhado em cumprir.

Eu como filho de gente pobre, que veio do mesmo buraco que possivelmente veio esse pivete. Eu te digo, guarde sua piedade a quem realmente precisa dela. De preferencia transforme sua piedade em ações. Porque você não vai até um desses pivetes e propõe um trabalho a eles, quem sabe lavar seu carro em troca de um dinheiro? Matricula um deles num curso do Senac, para ver se ele vai. Que tal? Eu te digo, já tentamos isso, e na maioria das vezes tivemos prejuízo. Quem nasce pra ser mal caráter vai ser mal caráter.

Faço questão de compartilhar esse vídeo. Independente de concordar ou não. Eu suponho que uma jornalista ainda tenha liberdade para ter uma opinião.



"Num país que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível" Notem que compreensível não é sinônimo de justificável.

"O Estado é omisso, a policia desmoralizada, a justiça é falha. O que resta ao cidadão de bem, que ainda por cima foi desarmado? Se defender, é claro"

Ela falou alguma mentira? Onde não há lei, onde o estado é omisso ou incompetente reina o caos, reina a lei de talião. E um dia o copo enche...

"O contra ataque aos bandidos é o que chamo de legitima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite"

OBS: Já tem até partido que defende atos como: Depredação de propriedade particular, enfrentamento a tropa de choque e pulaço de catraca querendo processar a jornalista pela opinião acima. Definitivamente Socialismo e liberdade, não combinam.

Sempre bom lembrar que: CP, Art. 25 -'' Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 

Há uma grande diferença entre o "Não é certo" e o "não é justo". A ação dos "justiceiros" foi covarde e não é certa, mas se foi injusta. Isso fica a critério de cada um. Eu não sei o que houve, ninguém, exceto o menor e seus agressores sabem.

Já eu é melhor que continue acordando cedo pra escoltar minha esposa até o ponto por que na próxima vez que um coitadinho desses tentar DE NOVO tacar fogo nela dentro de um ônibus, ele pode conseguir. E ninguém vai se importar com ela.

Todos nós queremos direitos humanos "padrão FIFA", mas para isso é bom começarmos dando estes direitos a quem vive em sociedade corretamente e honestamente.



Proteja-se quem puder.



Mais:
Ordem ou Barbárie?
http://prosaepolitica.com.br/2014/02/11/ordem-ou-barbarie-rachel-sheherazade/#.UvofWvldVSE

Um comentário:

  1. PQP!!! O comentário mais coerente que já li sobre o episódio. Vou compartilhar.

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"Se a prudência da reserva e decoro indica o silenciar em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de uma ordem maior pode justificar a atitude de dizer o que pensamos." - (Edmund Burke)