Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

POR QUE DEVEMOS LER OS CLÁSSICOS

Semana passada, conversando com um professor de Letras sobre alguns valores e posicionamentos que venho tomando (ele estava incomodado com certas observações, mesmo não sendo de cunho pessoal) e listei alguns livros que foram o pontapé dessas ideias. Dentre eles, havia alguns romances que são considerados clássicos do século XX e, sendo eu um professor de Literatura, não poderia ignorar. Qual não foi minha surpresa ao ouvir o tom escarnecedor das obras, desmerecendo, principalmente, os romances. Com isso, ficou pensando na relevância de se ensinar Literatura nas escolas e do preparo dos docentes da disciplina e resolvi fazer esse pequeno ensaio sobre o porquê da leitura dos clássicos.

Bem, primeiro devemos entender a relevância dos clássicos ou que são clássicos. Desde que o homem começou a transformar em símbolos os sons que emitia ele escreve. Todas as experiências cotidianas, suas dores, alegrias, enfim, tudo é registrado. Com a evolução do pensamento veio também a evolução da escrita como matéria-prima para se fazer arte, isso é Literatura, a arte de criar um espelho do mundo usando a palavra, que é a materialização do pensamento. Então, desde a Antiguidade, a Humanidade passou a transmitir seus valores, costumes, buscou o entendimento do que chamamos de "condição humana".

Quando alguns desses textos que começaram a ser produzidos refletiu um modo de agir que era identificado tanto pelo homem de sua época quanto os que vieram depois passamos a chamar essas obras de clássicas, portanto, as obras clássicas são aquelas que de alguma forma transpõe a linha reta do tempo e que tem o poder de tocar qualquer ser-humano em qualquer fase da História e fazer com que esse indivíduo possa refletir sobre quem ele é, como é o seu mundo e como ele pode se relacionar ou se modificar de alguma maneira.

Grandes nomes tiveram essa capacidade de entrar na alma do mundo e extrair o que havia de mais precioso e íntimo do homem. Homero, Shakespeare, Dante, Cervantes, Dickens e tantos outros, souberam tratar de uma forma clara e universal os anseios de todos nós. Temas como ambição, ciúmes, amor, vingança, cobiça, tudo foi esmiuçado por esses grandes gênios. E como eles, muitos outros escritores não só nos mostraram como nós somos, como em um espelho, como desenhou o mundo futuro a partir de suas vivências e dos perigos que certas direções poderiam causar, não só entenderíamos a nós mesmos, mas também ao mundo através desses alertas.

Assim funcionam as distopias e outros livros formadores da cultura ocidental. Um exemplo são os livros da imagem acima, todos eles forma escritos na segunda metade do século passado e com um bom distanciamento dos dias de hoje. Com um olhar mais apurado e uma leitura mais analítica, fica clara a similaridade das realidades dos livros com o momento em que vivemos não só aqui, como em outros países. Delinquência juvenil, ignorância induzida, desvalorização do conhecimento e subserviência ao Estado são a tônica dessas obras e sim, é possível refletir sobre nossos dias lendo essas obras, é possível depreender e fazer uma leitura do mundo a partir de romances atemporais culimando numa avaliação profunda da sociedade e da realidade.

portanto, digo e defendo que é importante a leitura de clássicos junto com outros textos, é importante conhecer tudo que foi produzido pela Humanidade nesses mais de cinco mil anos de produção escrita, valorizar o que foi registrado principalmente porque o Homem é previsível e seus movimentos são cíclicos, por mais evoluídos que sejamos. Não importa nem se tem gosto ou hábito, ambos podem ser desenvolvidos. E, pensando bem, realmente, cada vez mais devemos nos ater às grandes obras, aos romances relevantes, porque, mesmo com toda a nossa evolução, ainda agimos como os primeiros humanos a andar, falar e a escrever sobre essas paragens.

Kleryston Negreiros
Professor de Literatura

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