O rock e a Literatura sempre
tiveram papéis muito importantes em minha vida, tanto emocionalmente, quanto a
minha formação cultural, em especial o heavy metal – com todas as suas
variações – e punk rock, além de outros subgêneros mais acessíveis fizeram
parte do meu imaginário.
E devido à minha formação
acadêmica e natural gosto por leitura, aos poucos fui percebendo a relação
entre esse estilo muitas vezes tão incompreendido e a arte das belas letras,
comecei a notar que muitas músicas de que gostavam eram inspiradas direta ou
indiretamente em livros que li e me encantaram, com isso (graças à internet e
seus recursos, é verdade) pude fazer uma pesquisa e montar num serviço de
músicas – o Spotify (https://play.spotify.com/user/kajotha77/playlist/4no2yNIyJ7YptP3P4iyujA)
– uma playlist com canções que me agradam e que surgiram a partir de grandes
livros. E foi essa a inspiração para essa série de artigos que começa hoje aqui
nesse blog, a série Livros para ouvir.
A primeira canção, ou livro
de que vou falar, é muito conhecida do grande público, um clássico absoluto e
que voltou à tona graças à sua presença na trilha do filme Suicide Squad
(Esquadrão Suicida). Sim, meus caros leitores, estou falando de Bohemian Rhapsody,
do Queen. A canção que encerra a película e é uma das maiores canções da banda
foi baseada (não oficialmente, mas toda a letra faz referência) ao romance de
Albert Camus, O Estrangeiro.
Lançado em 1942, a obra se
passa na Argélia e conta a história de Mersault, um homem comum e indiferente à
vida que vai preso e é condenado pelo assassinato de um argelino mostrando o
quanto a existência pode ser uma sucessão de fatos sem sentido e absurda, sem
qualquer traço de fatalidade ou predestinação.
A história começa quando o
protagonista recebe um bilhete informando do falecimento de sua mãe, o que o
leva a tirar o dia seguinte de folga para ir ao enterro. Não fica claro se
devido ao cansaço ou a qualquer rancor que possa existir entre mãe e filho, mas
o fato é que o rapaz simplesmente não demonstra qualquer traço de dor ou chora
durante o cortejo fúnebre. Isso vai ser relevante para os futuros
acontecimentos.
A seguir, Mersault volta à
sua rotina de trabalho, seus banhos de mar com sua namorada e suas conversas
com seu amigo Raymond, um proxeneta que é ajudado por ele numa situação que
envolve a polícia. O jovem portanto vai tocando sua vida sem muitos
sobressaltos e sendo levado pelas circunstâncias, sem fazer planejamentos ou
criando expectativas quanto à sua vida.
E numa dessas situações a
que ele não tem controle e que se vê inserido por puro acaso, o francês acaba
se envolvendo numa briga iniciada por seu amigo, levando-o a matar o argelino
com quem brigavam num ato impulsivo e sem planejamento prévio. Isso o leva a
prisão e à julgamento e durante todo o processo, fica claro como a vida é uma
sequência interminável de absurdos culminando na condenação de Mersault não
pelo assassinato em si, mas pelo fato dele não ter chorado no enterro da mãe, o
que caracterizaria um traço de personalidade sociopata.
Camus foi um escritor com
forte influência filosófica e nessa obra mostra como a vida muitas vezes não
tem muito sentido, como ela se desdobra em fatos corriqueiros sem quaisquer
relações entre si e que vai jogando nossos planejamentos e projetos para
escanteio enquanto tentamos administrar os improvisos que nos acometem. Essa imprevisibilidade
que faz com que planos sejam apenas isso, planos etéreos. Isso fica claro na
passagem em que o protagonista percebe o quanto é prazeroso a companhia de sua
namorada (relação que surge do acaso e é levada de forma descompromissada)
resolvendo, assim, aceitar sua proposta de casamento.
Mas o acaso, essa entidade
que não respeita planos ou sonhos o coloca diante de um argelino, com uma arma
na mão e quando Mersault se dá conta da sua condição, está diante de um juiz
sendo sentenciado à morte. E são nesses momentos finais da vida que ele percebe
quanto sua vida era simples, mas prazerosa, como as pequenas coisas, como as
conversas com Raymond ou os banhos de mar com Marie. Nesse momento de epifania,
na iminência da morte, ele percebe o quanto a vida é sem sentido, como são
absurdos os acontecimentos.
A obra de Camus é um de seus
mais conhecidos romances tendo inspirado filmes (produzido por Luchino
Visconti, em 1967) como também canções de sucesso. Além da icônica música do
Queen, outra banda que se inspirou em O Estrangeiro foi a banda The Cure, a
música Killing na Arab faz referência direta à essa relevante obra que marcou a
literatura mundial do século XX e gerou clássicos em outras expressões
artísticas também. Leiam o livro, vejam o filme e fiquem com as músicas abaixo.
Até a próxima.
BOHEMIAN RHAPSODY
https://www.youtube.com/watch?v=fJ9rUzIMcZQ
KILLING AN ARAB
https://www.youtube.com/watch?v=ZMqPlQgHww8
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