Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

1984 – A PROFECIA QUE SE CONCRETIZOU


Por Kleryston Negreiros

Uma das coisas mais interessantes na cultura é que uma obra, quando se torna relevante para uma geração ou mesmo é eternizada como obra imortal, passa a ser cultuada e vira fonte de inspiração em outras linguagens também. Uma dessas obras é o livro de George Orwell, 1984, um dos romances mais influentes do século XX e o próximo livro da série Livros para Ouvir. (https://play.spotify.com/user/kajotha77/playlist/4no2yNIyJ7YptP3P4iyujA)

Fonte das mais diversas mídias – das histórias em quadrinhos ao cinema (V de Vingança), passando por discos de artistas distintos como David Bowie, Dead Kennedys ou Iced Earth – a obra é uma das maiores distopias do século passado e que, infelizmente, virou uma obra quase profética dos nossos tempos. (trailer dos filmes nos links abaixo)



Escrito em 1948 pelo escritor inglês, a trama narra um longínquo futuro em 1984 onde o mundo passa a ser dividido em três grandes territórios: Oceânia (que engloba a Inglaterra, todo o continente americano, África do Sul e países da Oceania), Eurásia (Europa continental e Rússia) e Lestásia (países dos tigres asiáticos, China e Japão), que vivem em conflitos entre si pelo controle do Oriente Médio a África saariana.

Toda a trama acontece na capital Londres e o país vive sob o regime de um partido único, o INGSOG (sigla para partido socialista inglês) e sob o governo ditatorial do Grande Irmão. Nessa sociedade distópica, não há liberdade ou relações familiares, as pessoas vivem em casas vigiadas a todo instante por teletelas e câmeras nas ruas. A verdade é manipulada, a informação é controlada pelo Estado e até mesmo o significado das palavras está sujeita a mudanças de acordo com os interesses do poder para que as pessoas não consigam refletir.

E é nesse ambiente sufocante que Winston Smith começa a tentar buscar a verdade sobre o Grande Irmão. Funcionário do ministério da Verdade, órgão do governo responsável por reescrever a História (o paradoxo é presente em toda a obra), ele começa a registrar escondido seus questionamentos em um diário, algo proibido, tendo uma polícia do pensamento para tolher qualquer ideia contrária ao que o Grande Irmão deseja. Ao confrontar o poder vigente e cometer uma série de delitos, Smith é preso e torturado por O’Brien, alto funcionário do governo. Ao ser solto, uma lavagem cerebral é feita no protagonista e este passa a amar incondicionalmente o Grande Irmão.

A trama é complexa e dinâmica e seu quadro assustador acabou se concretizando com o passar dos anos. Escrito para ser um alerta, acabou virando um manual de sobrevivência a esses tempos e seu caráter premonitório torna a obra uma das principais já escritas no Ocidente. Muito do que vemos no livro, com o tempo, virou realidade, as teletelas, aparelhos de tv que transmitem e gravam informações (como as smarts tvs, web cams ou smartphones), as câmeras vigiando as ruas (como as de vigilância tanto dos órgãos públicos quanto as privadas) e principalmente, a ideia de um Estado grande que controla os pequenos detalhes da vida de cada indivíduo, está tudo lá e estamos vivendo tudo isso hoje.

Mesmo no cenário político internacional não muda muita coisa. Ao vermos, por exemplo a questão da saída do Reino Unido da União Europeia, está se tornando um bloco da Europa continental (como é a Eurásia) ou mesmo a Inglaterra aproximando as relações com os EUA e países desse lado do Atlântico (como o bloco de Oceânia), percebemos que Orwell é praticamente um profeta dos nossos tempos.

Portanto, essa realidade não poderia levar muitos outros artistas a serem influenciados e criar a partir desse futuro tão sombrio quanto presente em nossos dias. Filmes como V de Vingança – que foi baseado em uma história em quadrinhos homônima – ou álbuns inteiros de artistas tão diferentes como Diamond Dogs, do David Bowie, e Dystopia, do grupo Iced Earth, são vários os exemplos. Mesmo músicas isoladas em discos não conceituais bebe nessa fonte: Califórnia Über Alles, do grupo californiano Dead Kennedys é um bom exemplo.


O livro ainda é atual e sua relevância está no fato de que o mundo acabou, infelizmente descambando para aquilo que Orwell previu como o que poderia acontecer de mais funesto e pelas mais diversas razões o livro não da lista dos mais vendidos em vários países do mundo. Então, leiam o livro antes que seja tarde e ouçam os álbuns que ele inspirou. Até a próxima.




Dystopia - Iced Earth

------------------------------------

Kleryston Negreiros é professor e administra o blog Professor, me indica um livro

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Recomenda-se ao comentarista que submeta seu texto a um corretor ortográfico.

Pede-se o uso de parágrafo, acrescentando-se um espaço entre uma linha e outra.

O blog deletará texto só com letras MAIÚSCULAS.


"Se a prudência da reserva e decoro indica o silenciar em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de uma ordem maior pode justificar a atitude de dizer o que pensamos." - (Edmund Burke)